Ben venga maggio
e’l gonfalon selvaggio!
Ben venga primavera,
che vuol l’uom s’innamori:
e voi, donzelle, a schiera
con li vostri amadori,
che di rose e di fiori,
vi fate belle il maggio
Poliziano
11 de Maio
Desde que a minha mãe me deixou, em Maio de
2015, ao fim de um ano de sofrimento e agonia, a morte vem sendo o tema
dominante da minha reflexão.
Cortejava-a, num certo sentido, chamava por
ela e marcávamos encontro ao fim da noite, no silêncio. A ideia de uma longa
velhice, sofredora e obtusa, a ideia do colapso repentino que subtrai a consciência,
aterrorizava-me. E depois, francamente, nunca acreditei que a longevidade fosse
uma estratégia inteligente do ponto de vista da felicidade, e todas essas
histórias sobre velhos que envelhecem bem, que fazem ginástica, etc., nunca me
convenceram. Digamos que a longevidade não me cai bem, os outros que façam como
entenderem.
Em meados de 2019, tinha começado a escrever
um livro cujo título me agradava especialmente: Divenire nulla [Tornar-se nada].
Belo título, certo?
Escrevi uma centena de páginas, mas muitos
dos argumentos permaneciam em estado de esboço e, sobretudo, não tinha pressa. Tinha
ainda pensado que um livro com o título Tornar-se
nada devesse talvez ser abandonado e esquecido juntamente com o seu
temerário autor, que o largaria incompleto às portas da eternidade.
Nos últimos dois anos, entretanto, depois da
maldita viagem a Houston, Texas, depois de três dias no lugar mais horrível
onde jamais imaginei pôr os pés, também a vontade de viajar me começava a
abandonar. Cada vez que ia a algum lado (continuei a fazê-lo até ao fim de
Fevereiro) tinha a sensação de me submeter a um stress desnecessário, falar em
público tornava-se cansativo. A última conferência pública que fiz, em Lisboa,
a 20 de Fevereiro, recordo-a como um pesadelo. Falava num centro social: numa
espécie de garagem relativamente espaçosa, repleta de uma pequena multidão
ruidosa e colorida. Se a memória não me atraiçoa, o tema – com qualquer coisa
de mau prenúncio – era o apocalipse irónico, ou talvez a ironia apocalíptica. Pouco
importa agora, mas o que é facto é que brincava com o fogo.
Nesse dia, não me sentia bem: doíam-me os
ouvidos, tinha a cabeça a latejar, respirava com dificuldade e subitamente,
enquanto falava à multidão absorta, chegou do exterior o uivo lancinante de uma
sirene. Uma ambulância, um carro de polícia, não sei. Aquele sibilar infernal ecoou
pela sala, fez-me perder o equilíbrio, a calma e, sobretudo, o fio do raciocínio.
A onda de pânico durou uns dez segundos, durante os quais caí num silêncio confuso,
após o que retomei normalmente, com uma piada sobre o meu estado de confusão
mental. Disse que estava a sintonizar a psicoesfera pânica e que a sirene
ululante fazia parte da performance e terminei, como sempre, prometendo
insurreições felizes. Dois dias depois, regressava a Itália e à chegada, no
aeroporto, apontaram-me uma pistola-termómetro à testa e tive a prova de que o
mundo entrava numa nova era.
Nos meses que se seguiram, tudo mudou – isto
é, não propriamente tudo, mas mudou muita muita coisa. Para começar, a viagem a
Lisboa foi a última, ao menos por agora, e não é de excluir que tenha sido a
última forever. Veremos.
Desde então, a curiosidade em relação ao
futuro exerce um tal fascínio sobre o meu imaginário, capturou de tal forma o
meu espaço mental que propus à sombria irmã [1] cuja corte, impudente,
vinha fazendo, para adiar o nosso encontro por mais algum tempo; antes, gostaria
de ver como tudo isto vai acabar. Sei bem, sei muito bem que não acaba em lado
nenhum, que tudo continua e por aí adiante… Mas entender pelo menos o rumo que
tomará a história, a volta que dará o mundo, se preferirem.
Não suporto o embaraço ou mesmo o choque de
alguns, de cada vez que se fala da morte, como se fosse uma indelicadeza da
nossa parte puxar o assunto. Há uns anos atrás, um filósofo bastante respeitado
dizia-me: pois bem, já que falas tanto da morte, porque é que não te suicidas?
E acrescentou que, para Spinoza, a vida é o único assunto de que o filósofo se
pode ocupar. O que me fez concluir que o filósofo merecedor de tal respeito é
um presunçoso. Um filósofo que não se ocupa da morte, que Spinoza me perdoe,
não é um filósofo, é um chocolateiro.
Nos Estados Unidos, o número de mortes atinge
oficialmente os oitenta mil, o que significa que devem ser pelo menos o dobro. Não
chega para tirar o sono ao presidente, que continuava, até há bem poucos dias,
a enviar mensagens combativas e provocadoras, cheias de duplos sentidos; mas
entretanto, certo é que parou de dar conferências de imprensa e conselhos
médicos e encontramo-lo um pouco apreensivo. Os seis meses que o separam das
eleições arriscam-se a não ser fáceis para ele. Como uma desgraça nunca vem só,
três pessoas que trabalham diariamente na Casa Branca testaram positivo para o
coronavírus: a porta-voz de Pence, um mordomo e um consultor que frequenta a
superprotegida West Wing do edifício presidencial. As coisas não podiam correr
pior para o lado da nossa mammasantissima
[2] : se até no lugar mais
protegido da terra, três pessoas foram atingidas pelo vírus, torna-se difícil
continuar a incitar a população a regressar ao trabalho.
Os desempregados são, agora, cerca de vinte e
cinco milhões e espera-se que sejam trinta e cinco milhões no espaço de um mês.
E como neste país aqueles que não têm dinheiro não se podem tratar, os pobres,
os afro-americanos e os latinos morrem aos milhares todos os dias, todos os
dias, todos os dias.
Uma súbita centelha de esperança: e se um
destes dias, entre dois tweets, Trump
caísse e morresse como um cão? Talvez não fosse a pior altura para ele. Poderia
apresentar-se ao São Pedro e dizer: sou o presidente dos Estados Unidos,
deixa-me passar. Mas creio que o São Pedro lhe responderia que se fosse… Ainda
assim, evitaria a vergonha de se ver derrotado pelo cavalo manco que é Joe
Biden, enquanto quarenta milhões de desempregados se agitam no exterior.
Como depois, pensando no presidente dos
Estados Unidos, me veio à cabeça a obra de Manzoni, não sei, mas deixo-vos usar
da imaginação. Lembrei-me, ainda ontem, da cena em que Don Rodrigo acorda a
meio da noite, descobrindo sobre o corpo «um sujo tumor de um lívido púrpura».
Recordam, certamente: «…o homem via que estava perdido. Um sentimento de terror
apoderou-se dele perante a ideia da morte, mas pensava com um terror ainda
maior na possibilidade de se tornar presa dos monatti, de ser levado e atirado para o lazareto».
Que faz depois, aterrorizado, o chefe dos malfeitores
e o raptor de Lúcia? Trata de chamar o vice-presidente? Mais ou menos isso:
Alcançando
a sineta, puxou-a com violência. Griso, que estava alerta, aparece
imediatamente. Parando a uma certa distância do leito, observou atentamente o
patrão e certificou-se daquilo que, na noite anterior, tinha apenas
conjecturado.
«Mike»,
consegue dizer o desgraçado, «isto é, Griso, tu sempre foste o meu favorito…»
«Sim,
Senhor.»
«Fui
sempre generoso contigo.»
«Pela
sua bondade, Senhor.»
«Sei
que posso confiar em ti…»
«Diabo…»
«Estou doente,
Griso.»
«Dei-me
conta, Senhor…»
«Sabes
onde mora Chiodo, o Cirurgião?» (assim se chamava, então, Anthony Fauci…)
Don Rodrigo implora a Griso que saia à
procura do cirurgião e não regresse enquanto não o encontrar, mas Griso – sem
surpresa – acabará por traí-lo, como decerto recordarão os meus vinte e cinco
leitores.
Em vez de ir ter com Fauci, dirige-se aos monatti, informa-os de que o seu patrão
contraiu o coronavírus e acompanha-os a casa do pobre Don Rodrigo que
naturalmente, vendo-se traído, reclama e esperneia: «os monatti agarram em Don Rodrigo, um pelos pés e o outro pelos ombros,
e vão depositá-lo sobre um carrinho de mão que tinham deixado no quarto
vizinho; depois, levantando o miserável fardo, levaram-no dali.»
12 de
Maio
Estava finalmente previsto, para o início de
Maio, o lançamento do livro ao qual me sinto mais afectivamente, intimamente
ligado. Quanto mais não seja pelo facto de que trabalho nele há mais de vinte
anos e continuo sem chegar ao fim, a tal ponto que o livro se chama E – de erotismo, estética, epiderme,
extinção, etecétera.
Chama-se E
porque começa citando Rizoma, onde os
nossos dois amigos dizem (recordam-se?) que a história da filosofia ocidental
fez-se de disjunções do tipo …ou…ou, e o que precisamos agora é de uma
filosofia de conjunções, e… e… e…
Nem mais.
Falei com a editora e decidiu-se adiar a
publicação, já que se trata de um livro que desafia as barreiras do tempo, e
substituí-lo por um outro, um pequeno livro que se chamará: Fenomenologia do fim. Comunismo ou extinção.
Ou talvez, antes: Fenomenologia do Fim.
Mas de que fim estamos a falar? Ou, quem sabe…
13 de
Maio
Não tenho ilusões de que o colapso pandémico possa
provocar, no imediato, algum tipo de efeito socialmente positivo. De facto, como
escreve Arundhati Roy, «se o coronavírus entrou nos corpos humanos e amplificou
as patologias existentes, ele entrou nos países e nas sociedades e amplificou
as suas enfermidades e patologias estruturais. Amplificou a injustiça, o
sectarismo, o racismo, os sistemas de castas e, acima de tudo, as desigualdades
de classe». Segundo Arundhati, o vírus não fez mais do que pôr a máquina
temporariamente fora de funcionamento; agora é preciso desligar-lhe o motor,
tornar definitivamente inoperante a economia orientada para o lucro. É esta a nossa
tarefa.
O ciclo de acumulação está encerrado e não
vai reabrir, porque as articulações estão soltas e gastas: a sanitária, a
psíquica, a produtiva, a distributiva… está tudo lixado.
Ao longo das últimas décadas, a precarização
do trabalho encarregou-se de fragilizar a sociedade e enfraquecer as suas
resistências. O Covid-19 foi o golpe final: a sociedade desagregou-se por
efeito do confinamento obrigatório e do medo e qualquer acção de resistência é,
neste momento, impossível. Mas por muito que isto possa parecer paradoxal, é a
passividade precisamente que destruirá o capitalismo, condenando-o à morte por
asfixia. A insolvência é forma mais subversiva de passividade, que consiste em
mandar tudo pelos ares sem fazer absolutamente nada – mais precisamente,
limitando-nos a não pagar pela simples razão de que não podemos, não temos como
pagar.
A insolvência não precisa de ser promovida,
ensinada, defendida na praça pública: virá por si mesma, como consequência
natural do colapso da economia. A insolvência não é culpa de ninguém, é uma
necessidade universal. E a sociedade terá de começar a experimentar formas
locais e autónomas de produção e distribuição, orientadas para a sobrevivência
e para o prazer.
Em Agosto do ano passado, recebi um
telefonema de Marco Bertoni, um músico com quem talvez me tenha cruzado nos
anos Oitenta, que fazia parte do Confusional Quartet, projecto que teve uma
influência muito particular na cena musical de Bologna desses anos. À época, soprava
em Bologna uma brisa do movimento punk/no
wave que depressa se misturou com os últimos ventos da tempestade
insurreccional de ‘77. A cena musical era vibrante e apaixonada: os
espectaculares Skiantos, o pós-punk radical de Gaznevada, o experimentalismo de
Stupid Set, entre outros.
Os Confusional representavam aqui uma
vertente mais culta, refinada, mais música contemporânea que pop, mais cool jazz que punk-rock incendiário.
Quarenta anos depois, em Agosto de 2019, Marco telefonou-me e disse que tinha
vontade de começar um projecto para o qual tinha apenas o título. E que, por
alguma razão, o queria fazer comigo. Fui apanhado de surpresa, o título sintetizava
electricamente muitas das linhas que atravessam este tempo: a grande migração,
a grande rejeição, a violência abstracta tecno-financeira e a violência
concreta do regresso do nazismo.
Chegámos imediatamente a acordo, quando me
revelou o título que tinha em mente: Wrong
Ninna Nanna.
Imaginei uma jovem mãe hondurenha que
alcançou a fronteira entre Tijuana e San Diego, mas encontrou a fronteira patrulhada
por guardas armados e sem ter onde ir, não sabe o que fazer e está ali, sentada
na terra, a embalar a criança para que adormeça. Mas também podia ser uma jovem
mulher nigeriana ou tunisina, num barco de borracha que avança em direcção à
costa siciliana.
Procurávamos imaginar o que deve sentir uma
mãe que trouxe ao mundo um ser sensível e vulnerável, sem ter talvez perdido o tempo
suficiente a reflectir sobre o mundo em que o recém-chegado está condenado a
crescer.
Existe algum motivo para nos reproduzirmos?
Capharnaüm, da realizadora libanesa Nadine Labaki, reflecte sobre a
experiência de um rapaz de doze anos, refugiado sírio, que conhece o inferno
dos campos de refugiados em Beirute – e que, no filme, move uma acção em
tribunal contra os pais por o terem trazido ao mundo. O filme de Labaki serviu-me
como principal fonte de inspiração nos textos que escrevi para Wrong Ninna Nanna: poemas embalados na
angústia de uma época que perdeu toda a esperança. Começámos a trabalhar em
Setembro, depois veio o Outono da convulsão, as gigantescas explosões de raiva,
em Hong Kong e Santiago, Beirute e Paris e Barcelona.
Marco começou a compor, com todos os
instrumentos musicais que a mãe natureza achou por bem conceder-lhe: folhas,
vento, corvos, pardais, água a correr, para além do seu piano estridente e furioso
e de coros de vozes angelicais e misteriosas.
Depois, convidámos uma amiga performer que me
lembro de ter conhecido em New York quando cantava nos clubes punk do Lower
East Side e eu trabalhava como jornalista musical, e que foi uma referência
para Marco ao longo da sua carreira – Lydia Lunch, uma das maiores performers do
nosso tempo. Ela aceitou, gravou uma série de faixas em estúdio, enviou-nos os registos
e pudemos, assim, dar início ao longo e extenuante trabalho de edição e
montagem. Depois escrevi a Bobby Gillespie, o magnífico e magríssimo vocalista
de Primal Scream, que certamente conhecem. Gostarias de juntar a tua voz,
recitando ou cantando ou o que te apetecer, a estas palavras e estes sons? Respondeu
que sim.
Então chegou o coronavírus, a pandemia, o lockdown – e por esta altura, a maldição
parecia cumprir-se na perfeição e criámos uma faixa introdutória para vozes abstractas,
para vozes não-humanas, que se chama Earth
and World.
Uma editora discográfica propôs-nos uma
edição em vinil. Sim, mas quando? Quando será retomada a produção de discos, de
livros, de filmes?
Mais cedo ou mais tarde.
Entretanto, e enquanto esperamos pelo vinil, queremos
dar a conhecer o nosso trabalho online,
promovendo-o talvez como a banda sonora do apocalipse. Falámos com os nossos
amigos Cuoghi & Corsello, dupla de artistas que conheço desde os anos
Oitenta, do tempo em que os seus tags
enchiam as paredes dos subúrbios de Bologna, e propusemos-lhes que colaborassem
com a realização em vídeo de Wrong Ninna
Nanna.
Encontrámo-nos precisamente no primeiro dia
do início do lockdown e, no retiro criativo
destes dois meses, C & C fizeram o vídeo para algumas das faixas. Marco
Bertoni, com a ajuda do filho, fez as restantes [3].
14 de
Maio
Manifestantes e milícias armadas ajudam a
reabrir o comércio no Texas.
Segundo a Folha de São Paulo, as milícias
bolsonaristas não aceitarão a derrota e estão a armar-se.
Uma guerra
civil global assoma no horizonte.
Para Lorenzo Marsili, não devemos esperar
demasiado do fim do mundo: «Esqueçam qualquer sonho romântico de desaceleração.
Considerem o seguinte paradoxo: a
aceleração vertiginosa do mundo e do tempo em torno de nós advém por meio de
uma crise que nos obriga a abrandar o ritmo. Parece instaurar-se um
estranho mecanismo pelo qual quanto mais paramos, mais depressa a realidade nos
chega transformada pelo nosso ficar em casa. Longe de desacelerar o mundo, o
Covid-19 veio acelerar fortemente processos de transformação pessoal, política
e económica que estavam já em curso […].
Um desgaste
gradual, mais do que um colapso.
Nem mesmo o Covid-19 acabará com o mundo. Mas
poderá certamente conduzir à sua ulterior degeneração: os pequenos negócios
fecharão cada vez mais rapidamente em benefício da distribuição organizada em
grande escala […], poderemos assistir a um apertar das medidas de austeridade para
expiar a culpa do endividamento necessário, assim como ao reforço da tendência
dos mais ricos para prepararem rotas de fuga, acelerando o processo de destacamento
das elites relativamente às comunidades nacionais. Em suma, a crise não é já interrupção
da normalidade, porque é a normalidade que é
crise – como plano inclinado, degeneração, estado mórbido. Uma crise, neste
sentido, que nada tem a ver com momentos decisivos, de separação das águas ou
grandes feitos heróicos. O velho conceito de crise perdeu, hoje, toda a sua
utilidade […]. Se nos propuséssemos fazer uma lista das coisas de que mais sentimos
falta nesta quarentena – exercício educativo, quanto mais não seja para darmos
conta da pouca importância que um certo consumismo reveste nas nossas vidas – as
relações humanas surgiriam certamente no topo da lista. Sentimos falta dos
nossos amigos. Mas de todos, verdadeiramente? […]. Um exemplo simples do que
pode significar ultrapassar o regime binário, na escolha entre crescimento e
decrescimento. Menos amigos e mais amizade.»
15 de
Maio
Sentado na margem do rio a escrever, copio
uma citação retirada de Giap, o blog de Wu Ming: «Intervém uma espécie de
princípio de indeterminação, no sentido de Heisenberg, entre o vírus e a
emergência. Não consegues manter o olhar focado nos dois ao mesmo tempo, ou
subestimas um ou o outro. Subestimas um aos olhos do outro. Isto é: para aquele
que vê bem o vírus (ou crê que o vê bem) a emergência é apenas uma contingência
que passará quando o vírus passar; para aquele que vê bem a emergência (ou crê
que a vê bem) o vírus, por muito sério e perigoso que se revele, será sempre a
menos letal das consequências que as políticas de emergência estão a provocar.
Toda a discussão sobre o assunto – a emergência coronavírus – padece desta
instabilidade interna…»
Como me sucede frequentemente depois de ler
Wu Ming, tenho a sensação de ter aprendido qualquer coisa. Por isso, paro por
um momento e medito sobre o que acabei de ler.
O terraço está banhado por uma luz celestial que
não quer terminar e recua lentamente, melancólica. Fazemos meia hora de yoga e acabamos
num longuíssimo mantra, antes de a luz do sol se extinguir completamente.
Sete companheiros do círculo anarquista Il Tribolo foram presos em Bologna, sob
a acusação aberrante de “associação com fins terroristas ou de subversão da
ordem democrática”. São companheiros e companheiras que se distinguiram na solidariedade
e no apoio aos detidos, envolvidos a fundo no transversal movimento
anti-carcerário que ressurgiu ao longo dos últimos meses, nas prisões de Dozza
e em várias iniciativas pela cidade.
Toda a operação contra eles assume
características de excepção: da vigilância com drones (porque à medida que a caça aos joggers esmorece, é preciso descobrir-lhes novas e úteis
aplicações) à irrupção nas casas de forças especiais anti-motim, com escudo e
capacete, etc. Foram imediatamente transferidos para as secções de alta
segurança de Piacenza, Alessandria, Ferrara, Vigevano. Porquê?
O único delito especificado na acusação: a
danificação de uma antena de telecomunicações, obviamente por provar, mas que faz
tristemente pensar no tipo de acusações fabricadas há anos em Val de Susa.
O comunicado à imprensa do gabinete do
Ministério público é um documento político: afirma o carácter preventivo da
intervenção, destinada «a evitar que em eventuais ulteriores momentos de tensão
social, originados pela particular situação de emergência, outros momentos de
mais geral “campanha de luta anti-Estado” possam ocorrer», em linha com a
directiva da ministra Lamorgese às autoridades regionais para prevenir a “manifestação
de focos de expressão extremista”.
No clima de medo e isolamento favorecido pelo
lockdown, prepara-se uma nova onda de repressão preventiva.
16 de
Maio
Não simpatizo pessoalmente com Guido Viale desde
que publicou no diário Lotta continua,
em Julho de 1970, um longo texto a arrasar com o meu primeiro livro, que se
chamava Contra il Lavoro [Contra o
Trabalho]. Nunca lho perdoei, mas admito que nos últimos tempos escreve sempre
coisas inteligentes. Hoje, assina um artigo no Comune-info onde fala de
normalidade potenciada: «Potenciada
para recuperar o tempo perdido, não o de Proust, mas o do PIB. O que significa:
mais produção, mais exploração, mais precariedade – isto é, ausência de
perspectivas e de futuro – para todos. Mais dívida, mais desigualdade entre
ricos e pobres, mais marginalização daqueles que são deixados para trás, mais rejeição
daqueles que não desejamos ver entre nós (apenas para melhor os explorarmos),
mais indiferença para com as “vidas descartáveis” […]. Por muito tempo se
reivindicou para os trabalhos de reprodução ou de cuidado – cujo papel
essencial, mas longamente ocultado, na sociedade foi trazido à luz pelo
movimento feminista – uma “igual dignidade” e uma remuneração adequada, ao
nível daquilo que era reconhecido ao trabalho dito produtivo. Tratava-se, por
outras palavras, de impelir com a luta o trabalho de cuidado para dentro da
esfera do trabalho produtivo. Hoje, no entanto, torna-se claro que é o
movimento exactamente oposto que deve ser promovido e que é necessário lutar
para transformar todo o trabalho produtivo num trabalho de cuidado: cuidar da
terra, dos seres vivos, das relações humanas e da reprodução da vida. É o
cuidado que deve atrair, acolher, transferir para a sua própria esfera de
sentido e reavaliação o trabalho dito “produtivo” e, por meio desta
transformação, assegurar o reequilíbrio entre género e papel na sociedade (gender and role) que o “desenvolvimento
das forças produtivas” não soube nem poderia nunca realizar: uma significativa
inversão de campo. É nesta perspectiva que a reivindicação de um rendimento
incondicional pode perder o seu carácter remunerativo – “paga-me, em troca de
alguma coisa” – para assumir conotações próximas da reivindicação de uma
pertença comum a um único género humano.»
17 de
Maio
Após meditar sobre as palavras de Wu Ming,
quero tocar num ponto sensível e espero que ninguém me interprete mal.
Não sou seguramente um fanático da
produtividade, nem tão pouco idolatro a liberdade como valor abstracto. Sou
anarquista, mas não é por isso que acredito que seja uma boa ideia lixar a vida
dos outros em nome da nossa própria liberdade. Tenho mesmo, de resto, a
convicção de que o mito da liberdade (de alguns) foi frequentemente usado para
impor a escravidão à maioria.
Mas quando, em Março, comecei a ouvir falar
do dever de ficar em casa, quando vi os spots
publicitários de celebridades que nos convidavam a imitá-las e a ficar em casa
– como se tivéssemos todos a piscina, o terraço e o mordomo – tive imediatamente
a noção de que algo de errado se passava. Mas ainda mais errado era o convite
no sentido contrário, para retomar a todo o custo o trabalho na cadeia de
montagem. A Cofindustria é pior que Fiorello. [4]
Sejamos claros: para evitar que o vírus se
espalhasse, matando milhões de pessoas, a única coisa que havia a fazer era
fechar tudo. Mas agora, dois meses depois, precisamos de consultar os dados relativos
à letalidade do vírus e descobrir que os números são, de facto, bastante baixos.
Os dados relativos à idade média das mortes não são menos interessantes: 80
anos na Áustria, 80 na Grã-Bretanha, 84 em França, 81 em Itália, 84 na Suíça e
80 nos Estados Unidos. A partir do momento que tenho 70 anos, não penso nem por
um instante que seja justo deixar que os velhos morram sem nos preocuparmos
muito com isso. Mas, em suma…
Devemos, talvez, reconhecer que a
perigosidade do vírus foi de algum modo sobrevalorizada? Nestes casos, é sempre
melhor sobrevalorizar do que subvalorizar, não há dúvida. Mas o que é preciso explicar
é por que razão se terá levantado a mais angustiante tempestade informativa de
todos os tempos.
Repito que sou um forte adepto do lockdown e detesto os “libertários” que
querem fazer as pessoas trabalhar sem olhar ao perigo. Não obstante, e sem
especial intenção de entrar em polémica contra as medidas preventivas, interrogo-me:
como foi possível?
A minha resposta é complexa mas, ao mesmo
tempo, muito simples.
Aquilo a que assistimos, durante a primavera
de 2020, foi uma crise de pânico à escala global cuja causa só ocasionalmente estava
ligada à pandemia e que, de modo mais profundo, dependia do stress psíquico
acumulado por uma sociedade obrigada a trabalhar em condições de precariedade e
de miséria, assim como do stress físico que afecta o organismo debilitado
devido à poluição do ar e da linguagem.
Se não tivessem sido impostas as medidas de
confinamento, o vírus teria causado muitas mais mortes do que aquelas que
causou – logo, viva o lockdown.
Mas aquilo que é preciso conter e neutralizar
não é apenas o vírus que provoca reacções, em alguns casos, extremamente
dolorosas e por vezes letais. É ainda preciso neutralizar a sistemática
poluição do ambiente, o stress da competição económica e da hiperestimulação
electrónica. E isto, não o farão os médicos por nós e não o fará uma vacina.
Temos de ser nós a fazê-lo, com a ajuda da luta de classes. Warren Buffett
tinha razão quando dizia que a luta de classes não terminou, mas foi
simplesmente vencida pelo inimigo. Isto era ontem, mas de repente já é amanhã.
A luta de classes está de volta e, desta vez, os nossos inimigos estão
desorientados, ou pelo menos tanto quanto nós.
18 de
Maio
Leio, no New York Times, um artigo de Roger
Cohen, um jornalista liberal moderadamente progressista, bastante culto, talvez
o meu jornalista americano preferido. O título – The Masked Versus the Unmasked – promete mistério, mas o texto é
claríssimo desde as primeiras linhas: «…dizia-me um vizinho no Colorado, há não
muito tempo atrás, que era o momento de “cerrar fileiras”. Porque o outro lado
(os trumpistas) está armado, dizia-me, e não vai recuar perante nada. O que diremos
aos nossos sobrinhos quando Ivanka Trump assumir o cargo em 2025, tornando-se o
46º presidente dos Estados Unidos, e os limites aos mandatos presidenciais
forem abolidos? Que tentámos tudo, isto é, todo o tipo de palavras, mas eles tinham
as espingardas?»
Claro que Cohen acrescenta imediatamente que
não está de acordo com o seu vizinho e que a democracia americana ainda não é a
Hungria, e por aí adiante.
Mas mais do que as boas intenções do liberal
esclarecido que é Cohen, estou interessado na substância. Estou interessado em saber
que na América se prepara uma guerra civil ou até mesmo uma vitória dos assassinos
supremacistas. Porque o que se prepara para acontecer na América, está
igualmente em preparação no Brasil e numa série de outros países: a guerra
civil é a projecção mais realista. Devemos também nós pegar em armas? Não creio,
porque se acaba aos tiros não há a menor dúvida de que perdemos. Mas devemos
saber o que nos espera e deixar para trás uma certa retórica vazia sobre a
democracia, que está morta e sepultada, se queremos construir uma resistência à
altura da tempestade à nossa frente.
Tenho que vos confessar uma coisa embaraçosa:
mudei, nos últimos meses, a minha personalidade está alterada, em suma, não me
reconheço. Não por efeito da pandemia ou do lockdown,
entenda-se, o que seria perdoável. Não, aconteceu por culpa da Netflix.
Passo a explicar. Há cerca de quinze anos
atrás, Billi e eu fizemos um acordo: cortar com a televisão. Por demasiado
tempo, tínhamos visto o nosso jantar arruinado pelos rostos infelizes e as
avalanches de merda que dali saem. Cortámos o mal pela raiz.
O ecrã de televisão viu-se submergido sob uma
combinação de plantas trepadeiras, cactos e rododendros, até terminar na
lixeira. Por quinze anos, deixei completamente de ver televisão a não ser, por
poucos segundos, num qualquer estabelecimento infame.
Tornei-me, pouco a pouco, incapaz de conviver
socialmente. Metade das referências em conversas e discussões escapavam-me,
personagens cujos nomes voltavam constantemente eram para mim perfeitos
desconhecidos. Tanto melhor para mim se não sabia quem era Giletti. [5]
Depois, chegou o lockdown e sabem o que fiz? Claro que não fui a correr comprar outra
televisão, não exageremos, mas paguei a subscrição da Netflix. Paguei os nove
euros e tive, de repente, uma lista de coisas à disposição que não sabia sequer
que existiam. Meio por acaso, escolhemos ver uma coisa chamada Casa de Papel, que pensávamos – imaginem
– ser a tradução de House of Cards,
de que tanto tínhamos ouvido falar. Mas é uma produção espanhola, que relata um
gigantesco assalto à Casa da Moeda, em Madrid. Só que não se trata de roubar,
na realidade, mas da ocupação da casa onde se imprime o dinheiro: o objectivo é
imprimir 2.4 biliões de euros, com a colaboração dos reféns. Entre os reféns,
encontra-se a filha do embaixador inglês em Espanha e os heróis do assalto atribuem-se,
cada um, o nome de uma cidade: Tokyo, Moscovo, Berlim, Nairobi, Rio, Denver,
Helsínquia e Oslo.
Não vou me vou pôr a contar a história toda,
mas uma coisa preciso de dizer. Casa de
papel é maravilhoso, perturbador, melhor que Dostoievski e Stendhal, melhor
que toda a história da literatura universal. Certo, algumas coisas vão parecer inverosímeis
(como a libertação de Tokyo por quatro sérvios barbudos). Mas quando lemos na
Odisseia que Ulisses atravessou meio Mediterrâneo a nado, como é que
acreditamos no que estamos a ler? Acreditamos e pronto, porque Homero o disse e
escreveu.
Devo confessar que sempre nutri uma especial
simpatia pelo roubo – desde que na prisão de San Giovanni in Monte, onde estava
detido por insignificantes delitos políticos, conheci Horst Fantazzini, que tinha
roubado uma dúzia de bancos emilianos sem nunca ter precisado de usar uma arma
de fogo. Dirigia-se aos balcões, dizendo simplesmente (ou exercendo aquilo que
os linguistas chamam um «acto linguístico performativo»): isto é um assalto. Os
caixas davam-lhe tudo o que tinham em caixa e ele ia-se embora tranquilamente, com
um sorriso nos lábios. Uma vez, em Piacenza, uma funcionária do banco disse-lhe
que saísse imediatamente – ou chamo a
polícia – e Horst (que era um homem de finas maneiras, falava um excelente
francês e, na prisão, usava um robe de veludo amaranto) responde-lhe: peço desculpa, passo por cá outro dia.
Infelizmente, sou pouco mais do que um
cobarde (cagasotto) e não me atrevi a
seguir aquela que teria sido uma carreira promissora. Empreguei o meu tempo a
conceber improváveis insurreições contra o Estado e vivo com uma modesta pensão
de professor que provavelmente desaparecerá ao longo dos próximos anos, na
mesma enxurrada que levará o Estado italiano e todos os outros.
Mas resumindo, até há dez dias atrás mantinha-me
bem informado: lia todos os dias o Financial
Times, o New York Times, Le Monde, il manifesto, L’Avvenire,
o El país, mais três, quatro semanários e alguns grossos volumes de história e
de filosofia. Agora, quase não acompanho o que se passa e não consigo pensar em
mais nada que não seja a Casa de Papel, o simpático professor, a lindíssima
Tokyo e o enigmático e inquietante Berlim.
Neste momento, o meu ódio pelos bancos, pelo
dinheiro e por aqueles que o acumulam, exprime-se assim, mas faço votos para
que nos próximos meses, enquanto o capitalismo se continua a desmoronar como um
castelo de cartas, a expropriação se popularize.
É possível que a mudança da minha personalidade
se deva também ao facto da droga ter acabado. Li algures que as vias de
abastecimento estão mais ou menos esgotadas, e seja como for, nunca mais vi os
rapazes com quem me abastecia desde que o maldito vírus nos separou. Não sofro com
nenhum tipo de abstinência, não é isso. O que se passa é que sem os meus três canhões
diários, tenho o cérebro exageradamente excitado e concebo pensamentos aos
quais, se calhar, não me devia entregar com tanta ligeireza. Mas que fique
entre nós, caros amigos, nem uma palavra a este respeito. Não é para espalhar.
Seja como for, este sétimo selo é o último da
minha longa crónica da psicodeflacção.
Deixo-vos, sem saber muito bem o que vou
fazer agora, mas um jogo interessante não se pode prolongar por muito tempo e
este já dura há três meses.
Ontem, regressou-se – por decreto
governamental – à vida normal. Sort of.
Como sugere Andrea Grop, numa mensagem que
imediatamente partilhei, a palavra de ordem é: recomeçar. A palavra italiana, ripartire, significa ao mesmo tempo “recomeçar”
e “repartir” (como em “partilhar, distribuir por”). Também nós, neste sentido,
desejamos ripartire, como não! Desejamos
recomeçar e repartir a riqueza que foi privatizada, repartir os blocos de
edifícios vazios que pertencem a instituições financeiras, repartir o dinheiro acumulado
com a exploração do trabalho. A palavra de ordem é repartição (ripartizione), distribuição,
expropriação, socialização dos meios de produção, rendimento garantido para
todos sem distinção de sexo, de credo religioso e de proveniência geográfica.
Vão ver que, dentro de um ano, quase todos
terão compreendido que se não se expropriam os expropriadores a maioria das
pessoas, como tu e como eu, acabará na mais profunda miséria e morrerá nas
piores condições. E morrer bem é preferível a morrer mal.
Alguém se perguntava se sairemos melhores ou
piores do confinamento. Depende: o medo, o distanciamento, a chantagem
económica, não nos tornarão certamente mais solidários, pelo menos no imediato.
Os patrões usarão o desemprego para fazer chantagem; os proprietários da FIAT
já têm o Estado refém, exigindo biliões de euros para a sua imunda empresa, que
depois de dezenas de anos a explorar os operários e a sugar as contribuições do
Estado italiano, (não) paga os impostos na Holanda enquanto despede
trabalhadores em Turim e Pomigliano.
Acontecerá, e sofreremos. Sofreremos muita
coisa durante os próximos meses, sofreremos a violência dos racistas contra os
migrantes, sofreremos a arrogância dos patrões e ainda a dos fascistas. Mas não
sofreremos para sempre porque o poder não se consolidará, a máquina económica não
se porá de novo em movimento, está irreversivelmente fora dos eixos.
Tudo será instável, como um bando de bêbados
num barco sobre um mar tempestuoso. Precisamos de nos preparar para um longo
período de instabilidade e de resistência e precisamos de o fazer
imediatamente. Resistência significará criação de espaços capazes de organizar
a sua própria defesa, a sobrevivência e a produção do indispensável, mas também
espaços de afecto e de solidariedade.
Existe uma probabilidade de pelo menos
oitenta e cinco por cento, e daí talvez noventa e creio mesmo que noventa um de
que a vida social se degrade, as defesas sociais cedam e se desintegrem, formas
de controlo tecno-totalitário se alojem no corpo social doente e o nacionalismo
belicista prevaleça. É provável provável provável. Talvez inevitável.
Mas se na noite de São Silvestre, entre o fim
de ano e o novo ano, te tivesse encontrado pela rua e te tivesse dito que no
espaço de três meses contaríamos trinta milhões de desempregados na América,
que o preço do petróleo teria descido a zero dólares o barril, que os
transportes aéreos de todo o mundo estariam fechados e que o 11 de Setembro, em
comparação, foi uma brincadeira – terias tratado de me internar no manicómio.
E no entanto, cá estamos.
Sabes porquê? Já te disse não sei quantas
vezes: o inevitável nunca acontece, porque acontece sempre o imprevisível.
•
Notas
de rodapé
1.
Laudato si’ mi Signore, per sora nostra Morte
corporale… Francisco de Assis, Cântico das Criaturas. [N. do T.]
2.
Mammasantissima é o
nome, no calão da máfia, para o “chefe dos chefes”. [N. do T.]
3.
Podem assistir aqui: https://www.youtube.com/watch?v=YfKwdA3bVlw
4.
Fiorello é um comediante italiano, conhecido
pelas suas imitações, e com uma longa carreira na televisão e na rádio. [N. do
T.]
5.
Giletti é um jornalista e apresentador de
televisão italiano. [N. do T.]
Franco
“Bifo” Berardi
Franco “Bifo” Berardi foi uma figura de
destaque do operaísmo italiano, em particular na sua ala mais criativa e dedicada
à experimentação com os media e a produção cultural. Fundou a Rádio Alice, primeira rádio livre em
Itália (1976-1978), e a revista A/traverso
(1976-1981), que combinava maoísmo e dadaísmo numa crítica anti-autoritária.
Exilado em Paris, trabalhou com Felix Guatari em esquizoanálise. Desde os anos
1990 que o seu trabalho tem incidido sobre a relação entre psicopatologia,
tecnologias da informação e capitalismo.
Nota
da edição
O Diário da
psico-deflacção resulta de uma parceria Punkto/Teatro do Bairro Alto, com
tradução de Nuno Leão. Franco “Bifo” Berardi esteve em Lisboa em Outubro
passado para a abertura deste teatro. A sua conferência está
disponível em podcast no site do TBA, assim como um glossário
experimental gravado aquando da sua
passagem pela cidade. A primeira, segunda, terceira ,
quarta, quinta
e sexta parte do Diário estão disponíveis
na íntegra no site do Punkto.
Ficha Técnica
Data de publicação: 19.07.2020
Edição #28 • Verão 2020 •
Caderno
#8 • Epidemos