Conheci Assange há dois anos na embaixada do Equador em Londres e pensando em tudo aquilo que ele me contou durante o nosso encontro creio que podemos perceber porque foi hoje preso. Assange referiu que estava a investigar o uso que a Google se preparava para fazer da imensa quantidade de informação de que dispunha. Tratava-se, segundo Assange, de vender às companhias de seguros e aos Serviços secretos dados sobre os interesses, desejos, consumos, estado de saúde, leituras, em suma, a vida em todos os seus aspectos de milhões de indivíduos. Segundo Assange – e eu creio que podemos partilhar a sua opinião – isto significaria um aumento sem precedentes das possibilidades de controlo dos poderes económicos e policiais sobre os seres humanos. O que está em causa na prisão de Assange não é, portanto, simplesmente o desejo de punir as investigações anteriores da Wikileaks, mas impedir a investigação em curso, que evidentemente é percebida pelas partes interessadas como uma ameaça. É também por esta razão que devemos expressar sem reservas a nossa solidariedade com Assange.
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Giorgio Agamben
Filósofo. Nasceu em Roma em 1942. É fundamentalmente
conhecido pela sua obra magna Homo Sacer,
publicada parcialmente em português, nomeadamente “Poder Soberano e Vida Nua” e “Estado
de Excepção”. É autor também de “Ideia
da prosa” e “A comunidade que vem”.
Notas da edição
Giorgio Agamben, “L’arresto di Julian Assange”. Esta tradução foi
realizada a partir da versão original em italiano publicado em Quodlibet, a 13 de Abril de 2019.
Ficha Técnica
Data de publicação: 13.04.2019
Edição #23 • Primavera 2019 •