NOTA INTRODUTÓRIA
O colectivo Esta é a minha cidade? vem, por este meio, tornar pública a decisão do Júri do concurso No Rules, Great Spot! Procuram-se ideias para a Praça de Lisboa, constituído por Pedro Bandeira, Pedro Bismarck, João Fernandes, Nuno Grande e Catarina Portas.
Considerando a grande participação e mobilização, mas também, a pertinência das propostas apresentadas, a organização do No Rules, Great Spot! vai promover, durante os próximos meses, um conjunto de iniciativas relacionadas com a apresentação e a divulgação das propostas (incluindo mesas-redondas, debates com a presença das equipas concorrentes e dos membros do Júri). Simultaneamente, das 117 propostas apresentadas a concurso, uma selecção de cerca de 30 irá estar disponível online (em www.norulesgreatspot.com e www.revistapunkto.com) e em diversos locais (futuramente a designar) da cidade do Porto. Dessa forma, procura-se que o exemplo da Praça de Lisboa possa ser um contributo sério para um debate alargado e criativo em torno das políticas de reabilitação urbana e de espaço público na cidade do Porto.
A organização quer deixar, igualmente, o seu agradecimento a todos os participantes que se juntaram a este debate, ao apoio essencial dado pela Associação de Estudantes da Faculdade de Arquitectura da U.P. e pela Revista Punkto e, claro, aos elementos do Júri, pela disponibilidade e interesse na iniciativa.
ACTA DO JÚRI
O concurso “No Rules, Great Spot! Procuram-se ideias para a Praça de Lisboa”, organizado pelo colectivo “Esta é a minha cidade?”, teve como objectivo provocar um amplo debate, não apenas em torno deste espaço paradigmático da cidade do Porto, mas sobretudo, em torno do processo de reabilitação urbana “enquanto projecto partilhado e informado, participado e discutido”. Apostando no modelo do concurso de ideias, como instrumento democrático de participação nas decisões políticas, esta iniciativa procurou afirmar as vantagens do debate de ideias e do envolvimento da comunidade nos processos que conduzem a cidade.
Assim, o número de propostas recebidas (117, provenientes, para além de Portugal, de países como o Japão ou o Brasil, e enviadas por arquitectos, designers e cidadãos em geral), demonstrou uma vontade clara de participação e mobilização. Mas revelou também, uma certa avidez pela ‘solução arquitectónica’ e um certo formalismo, que produzindo respostas/imagens possíveis, não resultaram, na sua maioria, de um pensamento crítico e informado sobre o sítio/processo em causa, promovendo não raramente modelos/linguagens convencionais e importados. Porque não se tratava tanto de escolher entre imagem a ou b, mas entre estratégias capazes de identificar problemas, colocar questões, ensaiar respostas criativas e mobilizadoras, tanto do sítio em questão como da própria cidade. Neste sentido, foram seleccionadas cerca de 30 propostas que se revelaram pertinentes para um debate a prosseguir futuramente. E deste grupo, 3 mereceram destaque pelo suporte crítico e pela criatividade que evidenciaram, mas também pela capacidade de formular novas dinâmicas de espaço público e de envolvimento da comunidade. As 3 propostas premiadas partem da ideia de “vazio” reutilizado, e não de edifício camuflado de “vazio”, que constituiu a resposta mais comum e mais óbvia para a maioria dos concorrentes.
Neste sentido, o Júri constituído por Pedro Bandeira, Pedro Bismarck, João Fernandes, Nuno Grande e Catarina Portas, decidiu por unanimidade distinguir as propostas de: Pedro Soares Neves, Folha em branco (1º classificado); de Marcos Veiga e Diogo Veiga, A sua vez (2º classificado) e de Mai Sumiya e de Keiko Miyake, Sun Light of Calm (3º classificado).
1º Classificado | Pedro Soares Neves | Folha em branco
O júri considerou, por unanimidade, que a proposta de Pedro Soares Neves “Folha em branco” foi a que melhor soube responder ao desafio lançado por este concurso de ideias, tanto na aptidão de “compreender a dinâmica deste espaço no contexto em transformação da cidade”, como na capacidade de construir um discurso crítico sobre a reabilitação urbana, envolvendo a comunidade e procurando articular criativamente novas relações entre cidade e cidadãos. Neste sentido, esta proposta é tão pragmática como radical, propondo-se tanto como desafio para uma leitura alternativa daquilo que pode ser o “espaço público”, como uma hipótese plausível de concretização com o mínimo de custos e meios. Uma proposta que, deixando a Praça de Lisboa no seu actual estado, se propõe, num gesto poético, a pintar de branco todas as superfícies e elementos da praça, procurando abrir rapidamente este espaço à cidade, promovendo um conjunto de ocupações não só espontâneas como ligadas ao processo de reabilitação urbana.
O Júri valoriza, sobretudo, o facto da estratégia proposta, não impor ou conformar uma solução definitiva, quer programaticamente como volumetricamente, mas pelo contrário propor um território vazio e expectante, provocando uma estratégia de ocupação aberta, dinâmica e in progress. Este “deixar como está”, dentro de um formato inacabado/inconclusivo que assume a ruína existente da Praça de Lisboa, não só se apresenta como uma estratégia válida do ponto de vista económico em tempos low-cost, como também promove um espaço público que não se faz unicamente do seu carácter lúdico, mas de uma dimensão reflexiva (reflectir/reflexão) sobre a condição vulnerável da própria cidade. Acima de tudo, é uma proposta que mais do que procurar avidamente uma resposta formal, prefere questionar e interrogar, dar espaço (literalmente) ao cidadão, enquanto protagonista, para completar a proposta, agindo e pensando sobre a sua cidade. Opõe-se, assim, a estratégias de reabilitação demasiado convencionadas, propondo-se como um gesto simples mas com um elevado sentido de potencialidade e operatividade na utilização do espaço público.
2º Classificado | Marcos Veiga e Diogo Veiga | A sua vez
Relativamente à proposta de Marcos Veiga e Diogo Veiga “A sua vez”, o Júri destaca a estratégia de valorização do espaço da praça como praça, isto é, precisamente como território aberto e como suporte para uma ocupação múltipla e variada. O esvaziamento da praça e a colocação de um possível programa no subsolo das ruas circundantes apresenta-se, assim, como uma estratégia potencialmente interessante face à tendência actual de enchimento massivo do espaço público (programática, volumétrica, formal). Um esvaziamento que se transforma em condição essencial para que a dimensão pública e colectiva do espaço possa acontecer, na capacidade de acolher e fazer co-existir diferentes formas e modos de ocupação.
3º Classificado | Mai Sumiya e de Keiko Miyake | Sun Light of Calm
Na proposta de Mai Sumiya e de Keiko Miyake “Sun Light of Calm” o Júri valoriza a qualidade da solução arquitectónica e urbana encontrada, propondo um programa de espaço público aberto, percorrível, acessível, resolvendo com particular destreza os problemas de deslocação suscitados pelo desnível das ruas adjacentes à praça. Mas também, realçar a originalidade da experiência espacial proposta, na combinação e inter-relação de diversos elementos/níveis de sombra e de água, com um programa diversificado de cafés, bares, lojas. Acima de tudo, esta proposta aparece como uma estratégia possível dentro de um quadro mais canónico de intervenção, num equilíbrio interessante entre espaço público e programa privado, entre efabulação poética e resposta urbana.
BIOGRAFIAS
Pedro Soares Neves (Lisboa, 1976). Formação académica multidisciplinar e pós graduada na
área do design e arquitectura. Especializado em metodologias de participação e apropriação pictográfica informal e espontânea do espaço público. Doutorando em arquitectura no IST, conferencista e projectista / consultor à escala metropolitana (ex: infra-estruturas viárias IC19 e 17) e municipal (ex: projecto CRONO), responsável pela adaptação à cidade de Lisboa (MUDE) da exposição itinerante “A rua é nossa... de todos nós!” (IVM, François Ascher).
área do design e arquitectura. Especializado em metodologias de participação e apropriação pictográfica informal e espontânea do espaço público. Doutorando em arquitectura no IST, conferencista e projectista / consultor à escala metropolitana (ex: infra-estruturas viárias IC19 e 17) e municipal (ex: projecto CRONO), responsável pela adaptação à cidade de Lisboa (MUDE) da exposição itinerante “A rua é nossa... de todos nós!” (IVM, François Ascher).
Marcos Veiga e Diogo Veiga (Porto, 1989; Porto, 1991). Estudantes de arquitectura da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto; formação musical em saxofone e percussão. Interessam-se pela improvisação e experimentação nas artes visuais, desenvolvendo trabalhos principalmente nas áreas da arquitectura e instalação.
Mai Sumiya e Keiko Miyake (Japão, 1980). Estudantes de Pós-Graduação na Universidade de Nara, Japão.
“(…) o processo urbano não se esgota no/com o político; a gestão democrática para não ser jogo alegórico exige inquérito e informação, participação e permuta, processo e projecto, realização e avaliação; a comunidade portuense dispõe de uma razoável tessitura de conhecimentos sobre como o Porto se fez cidade, pesem impudicas desconfianças e impaciências múltiplas. À data, face ao culto romântico da memória, à agitação da festa progressista, do economicismo politiqueiro e tecnocrático, e no esforço de um processo de sentido que pondera/valida operatoriamente a precariedade da situação presente, manifestei como instrução útil que “não basta dizer: os conceitos movem-se. É necessário ainda construir movimentos capazes de movimentos intelectuais. Do mesmo modo não basta fazer sombras chinesas, é necessário construir imagens capazes de auto movimento” (Deleuze). Daí que contra a cegueira iluminada dos autistas de “este Porto tem direitos de autor”, manifestei que, faz tempo, “chegou o momento em que a liberdade não tem qualquer outro significado senão o de ser vivida humildemente. É mais uma qualidade do Homem, e cada vez menos o seu privilégio” (Agustina Bessa-Luis)”.
Manuel Mendes, “Baixa Portuense” - Pura Representação in Porto 2001: regresso à Baixa
english version
INTRODUCTION
The collective Esta é a minha cidade? Comes, hereby, make public the Jury's decision from the competition No Rules, Great Spot! Wanted: ideas for the Praça de Lisboa, constituted by Pedro Bandeira, Pedro Bismarck, João Fernandes, Nuno Grande and Catarina Portas.
Considering the great participation and mobilization, but also, the pertinence of the submitted proposals, the organization of No Rules, Great Spot! Will promote, during the next months, a set of initiatives related to the presentation and divulgation of the proposals (including round-tables, debates with the presence of some of the teams and members of the Jury). Simultaneously, from the 117 submitted proposals, a selection of about 30 (shortly announced, after the break) will be available online (at www.norulesgreatspot.com and www.revistapunkto.com) and in several places (to be designated) in Oporto. In this way, it is seek that Praça de Lisboa's example can be a serious contribute to a wider and creative debate about the urban rehabilitation and public space policies in the city of Oporto.
The organization wants to express their thank to all of the participants that joined this debate, to the essential support given by Associação de Estudantes da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, by Revista Punkto and, of course, the Jury members, for the availability and interest in this initiative.
JURY WRITTEN RECORD
The competition No Rules, Great Spot! Wanted: Ideas for the Praça de Lisboa, organized by the collective Esta é a minha cidade?, aims at provoking a wide debate, not only around this paradigmatic space from Oporto, but mainly, around the urban rehabilitation project “as a shared and informed, participated and discussed project”. Betting in the ideas competition model, as a democratic instrument of participation in the political decisions, this initiative sought to assert the advantages of ideas debate and involvement of the community in the processes that drive the city.
Therefore, the number of submitted proposals (117, from, besides Portugal, countries like Japan or Brazil, and sent by architects, designers and citizens in general), demonstrated a clear will of participation and mobilization. But it also revealed a certain avidity for the 'architectonic solution' and a certain formalism, that, producing possible answers/images, didn't ended to rise, in most cases, from a critical and informed thought about the place/process in cause, frequently promoting models/speeches that are conventional and imported. Because it wasn't about choosing between image a or b, but between strategies able to identify problems, make questions, experiment creative and mobilizing answers, much of the site as the city itself. In this sense, there were selected 30 proposals that revealed pertinent to a future debate. And, from this group, 3 of them deserved a highlight for their critical support and for the creativity they showed, and also for the ability of formulating new public space dynamics, and community involvement. The three awarded proposals start from the idea of re-used “void” instead of building camouflaged of 'void', that constituted the most common and obvious response to most of the competitors.
Therefore, the Jury constituted by Pedro Bandeira, Pedro Bismarck, João Fernandes, Nuno Grande and Catarina Portas, unanimously decided to distinguish the following proposals: Pedro Soares Neves, “Blank sheet of paper” (1st place); Marcos Veiga and Diogo Veiga “Your Turn” (2nd place) and Mai Sumiya and Keiko Miyake, “Sun Light of Calm” (3rd place).
1st Place| Pedro Soares Neves | Blank sheet of paper
The Jury considered, unanimously, that the proposal “White Sheet” from Pedro Soares Neves was the one that better responded to the given challenge by this idea competition, both in the aptitude to “understand the dynamic of this space in the context of the city's transformation”, as in the ability to build a critical speech about the urban rehabilitation, involving the community and seeking to creatively articulate new relations between city and citizens. In this sense, this proposal is both pragmatic and radical, putting itself not only as a challenge to an alternative reading of that that can be “public space”, but also as a plausible hypothesis of concretion with low budget and means. A proposal that, leaving Praça de Lisboa in its actual state, aims, through a poetic gesture, to paint in white all the surfaces and elements of the square, wanting to quickly open this space to the city, promoting a set of occupations not only spontaneous but also linked to the urban rehabilitation process.
Jury values, mostly, the fact of the proposed strategy doesn't impose or conform a definitive solution, either programmatically or volumetrically, but, on the contrary, to propose a void and expectant territory, provoking an open occupation strategy, dynamic and in progress. This “leave it as it is”, framed in an unfinished/inconclusive format that assumes the existing ruin of Praça de Lisboa, not only presents a valid strategy form the economic point of view (in low-cost times), but also promotes a public space that doesn't makes itself only from its playful character, but from a reflexive dimension (reflect/reflection) about the vulnerable condition of the city itself. Most of all, it is a proposition that more than avidly search a formal answer, prefers to question and interrogate, give space (literally) to the citizen, as a protagonist , to complete the proposal, acting and thinking about its city. It opposes, therefore, to over conventional rehabilitation strategies, proposing itself as a simple gesture, but with a high sense of potentiality and operability in the utilization of public space.
2nd Place | Marcos Veiga e Diogo Veiga | Your turn
In what concerns the proposal by Marcos Veiga and Diogo Veiga “Your Turn”, Jury highlights the strategy of conception of the space of the square as a square, that is, precisely as an open territory and as a support for a multiple and varied occupation. The deflation of the square and colocation of a possible program in the underground of the surrounding streets presents, therefore, as a potentially interesting strategy facing the contemporary tendency to massively fill the public space (programmatic, volumetric, formal). A deflation that turns in essential condition that allows the public and collective dimension can appear, in the ability of receiving and to make co-exist different shapes and means of occupation.
3rd Place | Mai Sumiya e de Keiko Miyake | Sun Light of Calm
In the proposal Mai Sumiya and Keiko Miyake “Sun Light of Calm”, Jury values the quality of the architectonic and urban solution, proposing an open public space program, walk-able, accessible, resolving with particular skill the problems of mobility raised from the topography of the surrounding streets. But they also highlighted the originality of the spatial experience proposed, in the combination and inter-relation of diverse elements/levels of shadow and water, with a diversified program of cafes, bars, stores. Most of all, this proposal appears as a possible strategy in a more canonic frame of intervention, in an interesting balance between public space and private program, between poetic infabulation and urban response.
BIOGRAPHIES
Pedro Soares Neves (Lisboa, 1976). 1976, Lisbon. Multidisciplinary and post graduate academic training in design and architecture. Specialized in participatory methodologies and informal and spontaneous pictorial appropriation of public space. PhD in architecture at IST, lecturer and urban designer / consultant at metropolitan (eg: road infrastructure IC19, 17) and municipal scale (eg, project CRONO), responsible for adapting to Lisbon's exhibition "The Street Belongs to all of us" (IVM, Françoise Asher).
Marcos Veiga, Diogo Veiga (Porto, 1989; Porto, 1991). Architecture students at Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto; musical formation in saxophone and percussion. Interested in improvisation and experimentation in visual arts, developing works mostly in the areas of architecture and instalation.
Mai Sumiya, Keiko Miyake (Japan, 1980). Students of Post-Graduation at Nara University.