Black Archive \ Arquitectura e Destruição



BLACK ARCHIVE
Quintas-Feiras Negras | Arquitectura e destruição
Black Thursdays | architecture and destruction
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Arquivo do ciclo de conversas e imagens sobre arquitectura e destruição
Black Thursdays / Quintas-Feiras Negras
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 ‘Destruição’, o tema do segundo número da Revista PUNKTO (lançado em Maio) é o mote para um ciclo de conversas, imagens e discussões que procuram desvelar a afinidade intempestiva que se opera entre arquitectura e destruição. Mas, se como diz Picasso, “qualquer acto de criação é, antes de mais, um acto de destruição”, então este é um ciclo sobre criação e produção arquitectónica, sobre o que significa fazer e construir, destruir e reconstruir, mas também sobre o que significa recordar e esquecer. E, por isso, ‘Construir’ e ‘Destruir’ serão mesmo actos opostos? Ou somente duas faces de um mesmo processo? E quando falamos de arquitectura, estamos afinal a falar de quê: de construção ou de destruição?
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CONVERSAS
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SESSÃO #01 | LEITURA | 20.10
criação e destruição

Álvaro Domingues
Miguel Leal
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SESSÃO #02 | GESTO| 27.10
Projecto e violência

Jorge Figueira
José Bártolo
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SESSÃO #03 | GESTO| 24.11
Destruição e espaço público

Godofredo Pereira
João Teixeira Lopes
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SESSÃO #04 | GESTO| 30.11
Ruínas (Novo)
Memória e tra(d)ição 

José Miguel Rodrigues
Nuno Valentim
Vítor Moura


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IMAGENS
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SESSÃO #01 | FAUP | 06.10
Dr. Strangelove
Apresentação: Pedro Levi Bismarck
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SESSÃO #02 | FAUP | 13.10
Fahrenheit 451
Apresentação: André Tavares
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SESSÃO #05 | GESTO | 03.11
Memórias
La Jetée
Hiroshima Mon Amour
Apresentação: Francisco Ferreira
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SESSÃO #06 | GESTO | 10.11
Explosões
Zabriskie Point
Apresentação: Pedro Bandeira
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SESSÃO #07 | GESTO | 17.11
DESTROÇOS
Germania, Anno Zero
Apresentação: Pedro Baía




[Black Archive #09] RUÍNAS




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Quintas-Feiras Negras | Arquitectura e destruição
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Sessão #09 | Ruínas
José Miguel Rodrigues (Arquitecto - FAUP)
Vítor Moura (Estética/Filosofia - UM/EAUM)
Nuno Valentim (Arquitecto - FAUP)
Cooperativa Gesto | 30.11.2011
Arquivo (vídeos)
Debate (parte 1) / (parte 2)



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Introdução
Queria partilhar com vocês, ao fim destas nove sessões, alguns comentários e impressões. Este ciclo de conversas e de cinema, que hoje aqui encerramos, procurou ser, sobretudo, uma possibilidade de falar sobre arquitectura. E digo falar de arquitectura e não deste ou daquele arquitecto. Fala-se muito sobre os arquitectos e pouco sobre arquitectura. Fala-se muito sobre respostas e soluções arquitectónicas e pouco sobre problemas e questões de arquitectura.
E, por isso, falar de “arquitectura e destruição” foi, sobretudo, um pretexto. Um motivo para abordar um horizonte de problemas, questões, temas, que não pertencendo ao discurso quotidiano da prática arquitectónica, enredada como está nos meandros da legislação, das imagens, dos pragmatismos, dos prazos, nem por isso deixam de ser menos importantes. Eu diria que são, inclusivamente, essenciais para pensar os tempos que se avizinham. Mas parece haver sempre pouco tempo para pensar, não apenas no contexto do projecto, da prática disciplinar quotidiana, mas inclusivamente nas próprias escolas e na própria “teoria”, agora mais entretida a brincar com cronogramas e abstracts.
João Barrento dizia, há pouco tempo, que uma das principais razões do insucesso do ensaio, como género e modo, nas academias é o facto de vivermos numa sociedade, que nesses lugares que são o talk show e os documentários históricos, rejeita o pensamento, e cultiva a narrativa linear.
Mas também não se trata de nos enredarmos em discursos demasiado abstractos e conceptuais, mas tentar desvelar um horizonte de problemas que infere e informa necessariamente a actividade do arquitecto e do projecto. Não se trata, do: “lá estão eles a falar de coisas esquisitas” ou lá estão eles na “lala land”, mas pensarmos que quando falamos de arquitectura, estamos necessariamente a falar de politica ou de ética, de filosofia e antropologia, e de um conjunto de questões que não pertencem unicamente à disciplina arquitectónica, mas a todas as disciplinas, isto é, pertencem ao comum, à vida quotidiana. Que é afinal a matéria da arquitectura.
Se a arquitectura é ainda essa capacidade de concretizar um lugar, de configurar um território, construir uma casa, então ela terá sempre sobre si um horizonte ético, poético e político que exigirá sempre uma reflexão informada.
Tal como disse na semana passada, e perdoem-me a repetição, defender a dignidade e a importância da arquitectura passa necessariamente por aqui e passa pela capacidade de nós conseguirmos compreender, mas também reinventar, nesse ciclo sem fim entre experimentação e tradição, entre memória e esquecimento, o papel que cabe exactamente à arquitectura. Tal como o fizeram há 100 anos Le Corbusier, Loos ou Mies van der Rohe.
Baruch Espinosa, esse luso descendente como agora se diz, perguntava no século XVII, «o que pode um corpo?», pois a pergunta que se põe ou impõe, será sobretudo esta: «o que pode a arquitectura?».



[Black Archive #09] Nuno Valentim




Nuno Valentim
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Sessão #09 | Ruínas
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Outros vídeos da mesma sessão:
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Nuno Valentim é arquitecto pela FAUP e professor de construção na FAUP. É Mestre em Reabilitação pela FEUP. 





[Black Archive #09] Vítor Moura




vÍTOR mOURA
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Sessão #09 | Ruínas
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Outros vídeos da mesma sessão:
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Vítor Moura é doutorado em Filosofia pela Universidade de Wisconsin-Madison, mestre em Filosofia Contemporânea pela Universidade de Coimbra e licenciado em Filosofia pela Faculdade de Letras do Porto. Lecciona na Universidade do Minho, desde 1993, nos domínios da Estética, Filosofia Política, Lógica e Filosofia da Linguagem. Entre as suas publicações mais recentes, encontram-se títulos como "Luzes, Câmara ou Acção? Três Ontologias para a Imagem em Movimento" (2011), "Another Look at Immoral Art" (2011), "Le condizioni del nuovo: l'interazionismo metafórico rivisitato" (2011), e " 'A Valquíria Cavalga Livre' - Wagner e Lévi-Strauss" (2011).


Piranesi - Templo de Paestum

[Black Archive #09] José Miguel Rodrigues



José mIguel Rodrigues
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Sessão #09 | Ruínas
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Outros vídeos da mesma sessão:
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José Miguel Rodrigues nasceu no Porto em 1970. É arquitecto, professor de História da Arquitectura Moderna e investigador na área da Teoria do Projecto.




[Black Archive #08] MOTINS



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Quintas-Feiras Negras | Arquitectura e destruição
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Sessão #08 | Motins
Godofredo Pereira
Cooperativa Gesto | 24.11.2011

"Cities incite riots - and herding people in high rise reservoirs of social aggression doesn’t help… Locking up cowed hoodies in overcrowded prisons won’t solve anything. We need to think about public housing and public space - quickly."

Joseph Rykwert

Arquivo (vídeos)

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Slavoj Zizek in Wall Street
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We are all losers, but the true losers are down there on Wall Street. They were bailed out by billions of our money. We are called socialists, but here there is always socialism for the rich. They say we don’t respect private property, but in the 2008 financial crash-down more hard-earned private property was destroyed than if all of us here were to be destroying it night and day for weeks. They tell you we are dreamers. The true dreamers are those who think things can go on indefinitely the way they are. We are not dreamers. We are the awakening from a dream that is turning into a nightmare.
We are not destroying anything. We are only witnessing how the system is destroying itself. We all know the classic scene from cartoons. The cat reaches a precipice but it goes on walking, ignoring the fact that there is nothing beneath this ground. Only when it looks down and notices it, it falls down. This is what we are doing here. We are telling the guys there on Wall Street, “Hey, look down!”
In mid-April 2011, the Chinese government prohibited on TV, films, and novels all stories that contain alternate reality or time travel. This is a good sign for China. These people still dream about alternatives, so you have to prohibit this dreaming. Here, we don’t need a prohibition because the ruling system has even oppressed our capacity to dream. Look at the movies that we see all the time. It’s easy to imagine the end of the world. An asteroid destroying all life and so on. But you cannot imagine the end of capitalism.
So what are we doing here? Let me tell you a wonderful, old joke from Communist times. A guy was sent from East Germany to work in Siberia. He knew his mail would be read by censors, so he told his friends: “Let’s establish a code. If a letter you get from me is written in blue ink, it is true what I say. If it is written in red ink, it is false.” After a month, his friends get the first letter. Everything is in blue. It says, this letter: “Everything is wonderful here. Stores are full of good food. Movie theatres show good films from the west. Apartments are large and luxurious. The only thing you cannot buy is red ink.” This is how we live. We have all the freedoms we want. But what we are missing is red ink: the language to articulate our non-freedom. The way we are taught to speak about freedom— war on terror and so on—falsifies freedom. And this is what you are doing here. You are giving all of us red ink.
There is a danger. Don’t fall in love with yourselves. We have a nice time here. But remember, carnivals come cheap. What matters is the day after, when we will have to return to normal lives. Will there be any changes then? I don’t want you to remember these days, you know, like “Oh. we were young and it was beautiful.” Remember that our basic message is “We are allowed to think about alternatives.” If the rule is broken, we do not live in the best possible world. But there is a long road ahead. There are truly difficult questions that confront us. We know what we do not want. But what do we want? What social organization can replace capitalism? What type of new leaders do we want?
Remember. The problem is not corruption or greed. The problem is the system. It forces you to be corrupt. Beware not only of the enemies, but also of false friends who are already working to dilute this process. In the same way you get coffee without caffeine, beer without alcohol, ice cream without fat, they will try to make this into a harmless, moral protest. A decaffienated process. But the reason we are here is that we have had enough of a world where, to recycle Coke cans, to give a couple of dollars for charity, or to buy a Starbucks cappuccino where 1% goes to third world starving children is enough to make us feel good. After outsourcing work and torture, after marriage agencies are now outsourcing our love life, we can see that for a long time, we allow our political engagement also to be outsourced. We want it back.
We are not Communists if Communism means a system which collapsed in 1990. Remember that today those Communists are the most efficient, ruthless Capitalists. In China today, we have Capitalism which is even more dynamic than your American Capitalism, but doesn’t need democracy. Which means when you criticize Capitalism, don’t allow yourself to be blackmailed that you are against democracy. The marriage between democracy and Capitalism is over. The change is possible.
What do we perceive today as possible? Just follow the media. On the one hand, in technology and sexuality, everything seems to be possible. You can travel to the moon, you can become immortal by biogenetics, you can have sex with animals or whatever, but look at the field of society and economy. There, almost everything is considered impossible. You want to raise taxes by little bit for the rich. They tell you it’s impossible. We lose competitivity. You want more money for health care, they tell you, “Impossible, this means totalitarian state.” There’s something wrong in the world, where you are promised to be immortal but cannot spend a little bit more for healthcare. Maybe we need to set our priorities straight here. We don’t want higher standard of living. We want a better standard of living. The only sense in which we are Communists is that we care for the commons. The commons of nature. The commons of privatized by intellectual property. The commons of biogenetics. For this, and only for this, we should fight.
Communism failed absolutely, but the problems of the commons are here. They are telling you we are not American here. But the conservatives fundamentalists who claim they really are American have to be reminded of something: What is Christianity? It’s the holy spirit. What is the holy spirit? It’s an egalitarian community of believers who are linked by love for each other, and who only have their own freedom and responsibility to do it. In this sense, the holy spirit is here now. And down there on Wall Street, there are pagans who are worshipping blasphemous idols. So all we need is patience. The only thing I’m afraid of is that we will someday just go home and then we will meet once a year, drinking beer, and nostaligically remembering “What a nice time we had here.” Promise yourselves that this will not be the case. We know that people often desire something but do not really want it. Don’t be afraid to really want what you desire. Thank you very much.
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09.10.2011
Wall Street, New York
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[Black Archive #08] Motins \ Godofredo Pereira


Godofredo Pereira
Multitude, Pandemónio e Espaço Público


Parte 2

Parte 3

Parte 4


Arquivo (vídeos)



[Black Archive #08] Motins \ Apresentação



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Quintas-Feiras Negras | Arquitectura e destruição
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Sessão #08 | Motins
APRESENTAÇÃO

Estamos aqui, hoje, não para falar exactamente da crise, das causas ou das consequências, nem exactamente de política, mas para falar de arquitectura. O problema é que, e apesar de muitos não o quererem, não podemos falar de arquitectura sem falar de política, sem falar de crise e sem falar do papel social e cultural que a arquitectura tem enquanto dispositivo concretizador de espaço, de cidade, do território e do quotidiano da nossa vida diária.
Se, nos últimos anos, se tem assistido e insistido num discurso arquitectónico à margem dos problemas e das grandes questões sociais, culturais e políticos, será talvez o momento oportuno para lembrar que, apesar de tudo, a arquitectura existe não enquanto problema de construção, mas porque tem em si um outro desejo, um outro horizonte: de providenciar um abrigo, oferecer um lugar habitável para que o homem possa estar e possa viver em comunidade. Ora, isso é precisamente e exactamente, política, no sentido, da gestão e da organização da vida pública e colectiva da cidade – a polis.
Ora, se politica e arquitectura coincidem, porquê essa constante negação? Porquê o medo de lhe chamarmos política? Porque dizer: “não, isto não é política” é o mesmo que dizer: “não, isto não é arquitectura”. E talvez seja isso mesmo que se passa, muitas vezes não se faz, de facto, arquitectura, faz-se construção. Mas claro, que seria útil clarificar muitos destes conceitos: o que é exactamente a política? ou a biopolítica?, o que é exactamente o público e o espaço público?, etc… Talvez só clarificando alguns desses nexos que unem arquitectura e política, poderemos compreender a relação que se estabelece entre elas. Porque o falar de política, não é dizer: “sou de esquerda ou de direita”, “sou ultra-neo-liberal” ou “estou na margem do centro direita a olhar para o centro esquerda”, ou então dizer, “a política não me interessa”. Porque, quem diz a política não me interessa, já está inconscientemente ou não a estabelecer um raciocínio político, neste caso, não lhe interessa a gestão da vida colectiva, da vida pública, do espaço e das ligações comuns – não lhe interessa a comunidade.
Ora, a arquitectura é sempre a oferta ou a concretização de uma determinada configuração espacial, de um certo tipo de ordem num território, é sempre a manipulação de um lugar, e por isso, tem sempre uma dimensão ética, no sentido, original da palavra: ethos, isto é, concretiza e produz hábitos.
Isso não significa que seja impositiva, mas que tem um papel nesse processo. Também não significa que tenha de ser moral, mas significa que toma uma posição relativamente ao ethos, à ética de cada um e de todos. E, por isso, é preciso, antes de mais, saber que posição tomar, que lugar ocupar, saber o que informa ou valida esse posicionamento projectual. Porque então corremos o risco de alguém estar a decidir por nós.
Tanta gente defende a dignidade da arquitectura, o respeito social pela profissão, mas para que ela exista, temos de ser nós, antes de mais, a saber que papel cabe exactamente a esta disciplina chamada arquitectura. Baruch Espinosa, esse luso descendente, como agora se diz, perguntava no século XVII, «o que pode um corpo?», pois a pergunta que se põe ou impõe hoje será, sobretudo, «o que pode a arquitectura?».

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[Black Archive #04] IMPLOSÕES \ Projecto e violência


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Quintas-Feiras Negras | Arquitectura e destruição
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Sessão #04 | Implosões
Jorge Figueira
José Bártolo
Cooperativa Gesto | 27.10.2011

“A arquitectura moderna morreu em St. Louis, Missouri a 15 de Julho de 1972 às 15h32m, quando o infame complexo de Pruit-Igoe, ou antes, alguns dos seus blocos de cimento, tiveram o seu golpe final dado pelo dinamite”
Charles Jencks

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“A paisagem moderna não-mencionada”
No contexto da demolição de Pruitt-Igoe, teóricos e críticos começaram a construir um mítico Pruitt-Igoe, somado ao anúncio feito por Charles Jencks em 1977 da destruição da segunda torre como símbolo da morte da Arquitectura Moderna.
A ideia de um grande bairro residencial em St. Louis começa em 1937 com a criação do Federal Housing Act, e com os primeiros subsídios para a habitação local. Mas este só foi efectivamente desenvolvido a partir de 1949, quando ficaram disponíveis fundos para expropriações, terraplanagens e para a construção. O objectivo deste bairro, era sobretudo melhorar as condições de vida centro de St. Louis e regular a intensa e desordenada expansão suburbana.
Em 1950, a Autoridade Federal para a Habitação Pública deu luz verde para a construção de 5.800 unidades e encarregou Hellmuth, Yamasaki & Leinweber para desenhar Pruitt-Igoe. Mas desde o início do projecto foram impostas inúmeras condições e restrições, desde o sítio, à localização, ao número de unidades e à densidade prevista, e foi mesmo estipulado o esquema final de 33 edifícios modelares de 11 pisos. A partir daqui, mito e história andam juntos. Muitos pormenores do projecto foram concebidos dentro de uma intensa pressão para economizar: poucos elevadores e nenhuma manutenção levaram a um uso frequente das escadas; parques infantis não foram construídos por serem demasiado dispendiosos, etc…
Para além disso, Pruitt e Igoe estavam racialmente separados desde o início: brancos viviam nos ‘Igoe Apartments’ e os Afro-Americanos viviam nas ‘Pruitt Homes’. Mas em 1954, quando a segregação nas instalações públicas terminou por ordem do Supremo Tribunal, os residentes já vivam em segregação no ainda incompleto Pruitt e Igoe homes. E quando a ‘St.Louis Housing Authority’ levantou as restrições raciais. A maioria dos brancos mudou-se.
As ‘Pruitt Homes’ foram completadas a 1 Setembro de 1955 e os ‘Igoe Apartments’ completados a 26 de Fevereiro de 1956. E os dois projectos foram reunidos como Pruitt-Igoe. Em 1957 a ocupação era de 91%, valor que foi decrescendo ao longo dos anos. Em 1958, muitos residentes escolheram mudar para habitações privadas de baixo custo em vez de habitação social. Simultaneamente, vandalismo, violência e instabilidade fiscal agravaram-se e impediram todos esforços de salvar Pruitt-Igoe. E apesar de várias garantias federais, as taxas de ocupação continuaram a decair enquanto os índices de criminalidade subiam. Ao mesmo tempo, a manutenção e a gestão foram completamente negligenciadas. O ano de 1969 marca um conflito entre a “Housing Authority” e os inquilinos de Pruitt-Igoe, que se juntaram numa massiva greve às rendas que durou 9 meses, e que juntou igualmente outros residentes de bairros sociais de St.Louis.
A 16 de Março de 1972, os inquilinos que ainda estavam em Pruitt-Igoe foram colocados em 11 edifícios, e uma experiência com vista a catalisar o bairro implodiu um dos edifícios mesmo no centro do projecto. Um mês mais tarde a 21 de Abril de 1972, um segundo edifício foi demolido, gerando essa imagem icónica usada por todos os jornais e televisões americanos. Por fim, em 1973, foram realojados todos os outros inquilinos, cerca de 800 dos iniciais 15.000, e foi demolido todo o complexo. Salvou-se apenas a escola e uma subestação eléctrica.
Por essa altura, o mito Pruitt-Igoe estava firmemente estabelecido. E entregava toda a culpa aos arquitectos, ignorando os problemas sociais e económicos que contribuíram para o falhanço do projecto. A redução de Pruitt-Igoe a uma questão de simples qualidade arquitectónica, não reconheceu a total indiferença social relativamente à pobreza dos negros do centro de St. Louis, e sobretudo, o mito elevou Pruitt-Igoe a um estatuto de símbolo retroactivo do modernismo, e que nunca verdadeiramente teve aquando da sua construção. Assim, faltando todo o contexto histórico, ignorando a discriminação racial e a crise económica, desprezando o papel das autoridades e agências de habitação e inflacionando o papel do arquitecto a de um engenheiro social, o mito efectivamente encerrou o sítio num vazio, congelando-o no tempo e fazendo com que se tornasse difícil e impossível a intervenção de qualquer arquitecto. Fora desta narrativa estão também as vidas dos próprios residentes: muitos deles nunca viveram e nunca viverão em casas tão decentes como as que tinha em Pruitt-Igoe. A verdade é que Pruitt-Igoe é tão amado como odiado entre os seus antigos habitantes.
Hoje Pruitt-Igoe é uma densa floresta urbana!
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Pruitt-Igoe, St. Louis. Implosão e Vista geral do complexo.
Imagens via Pruitt-Igoe Now

[Black Archive #04] José Bártolo



José Bártolo
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Sessão #04 | Implosões
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Outros vídeos da mesma sessão
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Jogo de Softball, Pruitt-Igoe