Arquitectura e «pessimismo»
Sobre uma condição política em
arquitectura
Pedro
Levi Bismarck
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Ex-curso . série b <1>
Outubro 2020
ISSN 2184-5859
5€
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1. objecto e paisagem
uma arquitectura sem projecto
2. o arquitecto como empreendedor
a privatização da arquitectura
3. organizar o pessimismo
sobre uma condição política em
arquitectura
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Mais do que um outro apelo ao compromisso político
da classe, este ensaio procura compreender como o neoliberalismo pôs em causa –
sobretudo na última década – todo um modo de ver e praticar a arquitectura. Se
palavras como «cidade» ou «plano» não parecem ser mais do que desconfortáveis
embaraços na boca dos arquitectos ou, então, antigas relíquias exibidas na vitrine
do museu natural da historia da arquitectura, é porque as fundações de toda uma
ideia de projecto – que marcou decisivamente a experiência e o horizonte da
arquitectura ao longo do século XX – foram fortemente abaladas pelo
desmantelamento progressivo do Estado social.
É por isso que o «objecto arquitectónico» é o
sucessor de pleno direito da ideia de «arquitectura como projecto»: ele consuma
e consome a morte do projecto ao mesmo tempo que dá expressão formal e
conceptual à posição que a arquitectura ocupa actualmente no mercado total da economia
política do neoliberalismo. Por outro lado, a actual ansiedade pelos «valores essenciais
da arquitectura» ou pelas «poéticas da forma» não são uma simples coincidência:
ao fazer de cada objecto arquitectónico um eterno poema de Primavera, cheio de
promessas de felicidade, esconjura-se a
dura realidade de uma profissão atravessada pela precariedade laboral e pela
irrelevância social, dissimulando, para além disso, a actual dissolução
neoliberal das instituições públicas. Esta é a razão pela qual o objecto é sempre
privado: uma arquitectura privatizada, isto é, expropriada da sua condição
pública. Uma arquitectura sem projecto.
No entanto, se mais nada nos resta senão o
pessimismo, isto não significa uma qualquer resignação fatalista, mas antes,
como Walter Benjamin já o sabia, que este é o ponto de onde teremos
necessariamente de partir: «il faut organiser le pessimisme».
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