No Brasil de
Bolsonaro, escureceu às 15h na maior capital do país. No sudoeste do Pará,
latifundiários se sentiram à vontade o suficiente para promover e divulgar um
“dia do fogo” na mídia local. Neste momento, já levaríamos de 200 a 300 anos
para que a Amazônia retornasse a seu estado original, sob recuperação natural
ou assistida, segundo especialistas. Além disso, Bolsonaro segue aprovando o
uso de novos agrotóxicos, potencialmente cancerígenos, somando 211 que
contaminam os rios e solo e disseminam veneno e doenças para o prato da
população. Há alguns meses, vimos uma cidade mineira submergir em lama fruto da
ganância da Vale.
Essa é a
realidade de devastação ambiental e crise ecológica que choca, sensibiliza e
revolta a juventude e a classe trabalhadora brasileiras e internacionalmente,
que tomam as ruas em defesa da Amazônia. Enquanto isso, o presidente que fez
campanha contra a questão ambiental como empecilho às negociações comerciais no
Brasil, chegou a culpar ONGs pelas queimadas, para livrar seus grandes aliados
do agronegócio, e chamou dados de “mentira”. Ao mesmo tempo, imperialismos que
sistematicamente vêm demonstrando sua ganância predatória para super-explorar a
mão-de-obra brasileira e são responsáveis pelos “barcos da morte” na crise
migratória europeia posam-se de humanitários e defensores da imensa fauna e flora
amazônicas por meio do G7.
Bolsonaro, agronegócio e G7: tirem as mãos da
Amazônia
Mais do que
nunca, a irracionalidade do sistema capitalista, em escancarada decadência na
putrefação de sua crise em um momento em que economistas internacionalmente
anunciam cenários de nova recessão mundial, comprova que não há saída
intermediária para a humanidade. Os dizeres de Rosa Luxemburgo neste ano de
centenário de seu assassinato seguem mais atuais do que nunca: “socialismo ou
barbárie!”.
Na crise
capitalista, a mesma lógica que faz com que exista hoje no Brasil e no mundo
uma massa procurando trabalho, a começar pela juventude, ao mesmo tempo em que
outra massa é obrigada a recorrer a longas e desgastantes jornadas por salários
miseráveis, dita que os recursos naturais sejam destruídos aos ritmos e
vontades do agronegócio e das grandes empresas imperialistas no Brasil. Não há
racionalidade pautada pelos interesses sociais e ecológicos na anarquia
capitalista. São os interesses privados de um punhado de latifundiários,
empresários e capitais imperialistas que impõem ao conjunto da espécie humana,
concomitantemente, as condições de sofrimento e miséria que cerceiam sua
existência atual e os tempos - cada vez mais acelerados - de seu
desaparecimento futuro, junto a milhares de outras espécies.
Por isso,
aqueles que historicamente se dispuseram a buscar um projeto de conciliação,
administrando o Estado capitalista e defendendo os lucros da burguesia
predatória latifundiária e imperialista, abriram espaço ao agronegócio, à
bancada do boi e da bala, e aos setores que articularam o golpe institucional e
apoiaram Bolsonaro, como vimos com os governos petistas. O ciclo econômico
excepcional na América Latina que marcou a possibilidade das precárias
concessões lulistas, ao mesmo tempo em que os bancos nunca lucraram tanto, foi
em base ao boom de commodities em comércio de produtos como soja e milho com a
China e da expansão das fronteiras agrícolas.
Agora os
interesses do imperialismo alemão ameaçados pelo gigante asiático pautam sua
demagogia, disfarçada de “preocupação ambiental” com Mérkel, para enfraquecer o
comércio brasileiro com a China, enquanto segue disseminando e devastando todo
o globo. São também esses setores, junto a Macron e Trump, os beneficiados pelo
entreguismo privatista de Bolsonaro, que oferece os recursos naturais do Brasil
em troca de acordos profundamente desiguais como o Mercosul-UE. Além disso, as
empresas desses mesmos países europeus são grandes fornecedoras de maquinário e
de sementes às regiões desmatadas. Assim, Bolsonaro, o agronegócio e os imperialismos
do G7 são responsáveis pelo aprofundamento da devastação ambiental e da
opressão dos povos indígenas, quilombolas e sem-terra na região amazônica,
sistematicamente assassinados.
Os cortes e o “Future-se” de Bolsonaro e Weintraub a
serviço de aprofundar a devastação ambiental
Nesta mesma
semana, Bolsonaro anunciou que pretende fundir CAPES [Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] e CNPq [Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico]. Diante dos bilhões já cortados de
financiamento às universidades e institutos federais, que ameaçam fechar suas
portas e contra o qual a juventude se levantou massivamente no primeiro
semestre, não há dúvidas de que esse processo se liga ao projeto de ataque ao
pensamento científico em curso no Brasil e ao corte de milhares de bolsas.
O anúncio do
programa “Future-se” nas federais vai de encontro ao duplo processo de
precarização e privatização do conhecimento vinculado ao controle ideológico da
ciência. São justamente empresas, cujas mãos estão sujas de fuligem e sangue,
as que passam a ter permissão, também via Organizações Sociais, a financiar e gerir
o conteúdo produzido nas universidades. Não é à toa que na propaganda
televisiva do “Future-se” o governo sublinhe os dizeres “tecnologia alavanca o
agronegócio” e “capital estrangeiro”. Se, historicamente, os considerados
grandes polos de conhecimento como as estaduais USP e UNICAMP já empreenderam
convênios, garantidos pelas reitorias e conselhos universitários, com empresas
como Monsanto e Cargill, imperialistas vinculadas ao agronegócio brasileiro, o
“Future-se” vem não apenas para generalizar e determinar unicamente que o
conhecimento das universidades esteja a esse serviço, mas também para
precarizar o conjunto da ciência, privilegiando somente alguns setores
interessantes à semi-colonização do “Brasil fazenda do mundo”.
Bolsonaro sabe
que o conhecimento das universidades, predominantemente a serviço das
burguesias, está em disputa e que também advém pensamento crítico das
universidades. É por isso que as elegeu como inimigas declaradas. Avançar
contra a produção científica também significa impedir a realização de produções
que desmascaram o projeto de destruição ambiental em curso. Além do ataque
escancarado às Ciências Humanas, que servem à compreensão da sociedade e por
isso historicamente são pólos de resistência às falácias da direita, áreas como
as Ciências Biológicas são consideradas mais custosas porque necessitam de
infra-estrutura para suas pesquisas e estão também no centro dos ataques, com
os cortes. O governo quer calar qualquer liberdade científica e impedir qualquer
ponte das universidades com a classe trabalhadora e o povo pobre disseminando o
obscurantismo e a desinformação, contra a qual o céu cinza de São Paulo
protestou.
A única saída para a crise ecológica é
anticapitalista e ligada à classe trabalhadora
Nas últimas
eleições europeias, os chamados “partidos verdes” tiveram desempenho destacado,
como tentativa de capitalizar as “sextas pelo futuro”, com greves ambientais e
protagonismo da juventude. Entretanto, esses mesmos partidos, que são também
imperialistas ajustadores em nome dos interesses das empresas, não são
alternativa alguma à crise ambiental. A burguesia nos levará somente à
barbárie.
Por isso, a
juventude brasileira que se colocou como a oposição mais contundente ao governo
Bolsonaro, levantando-se nos dias 15 e 30 de Maio e tendo sua energia traída
pela estratégia impotente das burocracias do PT e do PCdoB na UNE e nas
centrais sindicais, deve buscar sua saída em um programa que de fato responda à
angústia gigantesca de em quais condições a humanidade construirá seu futuro. É
necessário impor a imediata suspensão de todos repasses financeiros bilionários
aos latifundiários pelo governo e sua imediata aplicação em planos de combate
ao incêndio, reflorestamento e gestão das florestas. Frente aos bilhões de
dólares exportados anualmente em soja, milho e carne às custas de devastação
ambiental e humana, é preciso levantar uma campanha pela estatização sem
indenização de todas traders e seus
bilionários recursos financeiros, logísticos e tecnológicos e pelo monopólio
estatal do comércio da soja, controlado pelos trabalhadores.
Em um país como
o Brasil, a defesa do meio ambiente perpassa a luta pelo direito à terra e
contra o latifúndio, diante de uma burguesia herdeira da escravidão. Assim, é
necessário uma reforma agrária radical que desmantele o latifúndio no país,
distribuindo terra a quem deseja nela trabalhar, que garanta autonomia e
integralidade das terras indígenas e quilombolas, e integre as pequenas
propriedade de cinturões verdes nas cidades, com os pequenos proprietários no
campo, com grandes fazendas e fábricas sob controle dos que nela trabalham.
Apenas
contagiando a classe trabalhadora e construindo uma aliança explosiva, é
possível impor esse programa, a partir da batalha pela auto-organização, com
assembleias e reuniões de base, em cada local de estudo e trabalho, exigindo um
plano de lutas das entidades estudantis e centrais sindicais. Nesse sentido, as
universidades têm um grande papel a cumprir: lutar contra os ataques à educação,
às pesquisas e à ingerência das empresas que destróem nosso futuro passa por
batalhar por universidades a serviço da classe trabalhadora, das populações
indígenas e quilombolas e do povo pobre. Não apenas lutando contra a
desinformação que busca amenizar a gravidade da crise ecológica atual, mas
também porque a ciência e a tecnologia que avançam para aumentar a
produtividade do agronegócio em detrimento do meio ambiente poderiam estar a
serviço de produzir tecnologia e traçar planos para barrar a devastação do
planeta.
Por isso, os
comunistas somos os que mais podemos defender o meio ambiente, justamente
porque, frente à miséria imposta à sociabilidade humana pelo sistema
capitalista, defendemos uma perspectiva de que é possível arrancar outra
perspectiva de futuro, que libere a realização da ciência, da arte, do trabalho
ao máximo das forças produtivas, o que necessariamente passa por reconstruir a
relação entre ser humano e natureza – relação mediada necessariamente pela
forma como a humanidade trabalha e constrói sua riqueza. Por isso, apenas uma
economia planificada de acordo com as necessidades sociais coletivas e
ecológicas, rumo a uma sociedade de produtores livremente associados, pode
responder até o final às angústias de uma geração que começa a assistir aos
desdobramentos de um sistema que nada tem a nos oferecer, senão sofrimento e
destruição.
Na semana dos 79
anos do assassinato de Trotski pelo stalinismo remarcamos: “O socialismo
significará um salto do reino da necessidade ao reino da liberdade, no sentido
de que o homem de hoje, esmagado sob o peso de contradições e sem harmonia,
abrirá o caminho a uma nova espécie mais feliz.”
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Nota da edição
Declaração do Faísca - Juventude Anticapitalista e Revolucionária - foi
inicialmente publicada no site brasileiro Esquerda Diário.
Faísca - Juventude
Anticapitalista e Revolucionária
A Faísca - Anticapitalista e
Revolucionária - é composta por militantes da juventude do MRT e jovens
independentes no Brasil.
Imagens
Ficha Técnica
Data de publicação: 25.08.2019
Edição #24 • Verão •