Prémio Wolf \ Carta a Souto de Moura


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Prémio Wolf
Carta a Eduardo Souta de Moura
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Architects and Planners for Justice in Palestine

Eduardo Souto Moura foi recentemente galardoado com o Prémio das Artes 2013 da Fundação Wolf sediada em Israel, onde se irá deslocar para receber o prémio. O GAP (Grupo Acção Palestina) , o Comité de Solidariedade pela Palestina e o PACBI enviaram cartas ao arquitecto no sentido de não aceitar o prémio. Contudo, apesar de Souto Moura ter aderido a uma campanha solidária lançada por José Saramago, em 2004, juntamente com 14 outras personalidades do mundo cultural, subscrevendo que «quando um povo toca o fundo da humilhação e do sofrimento, quando é massacrado dia após dia e vê que a esperança se perde em benefício de um futuro incerto (...) nós devemos prestar a nossa solidariedade», a última carta recebida por Souto Moura não vai ao encontro desta postura solidária.
Esta campanha de sensibilização dirigida a Souto Moura, para que não aceite o prémio como forma de solidariedade para com os palestinos e como forma de denunciar as ilegalidades cometidas pelo Estado de Israel, tem uma abrangência internacional e, pela sua relevância, estamos a divulgar a última carta enviada ao arquitecto pela Architects & Planners for Justice in Palestine, um colectivo de solidariedade sediado em Inglaterra.
GAP (Grupo Acção Palestina)
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ARCHITECTS  & PLANNERS FOR JUSTICE IN PALESTINE                                          
abe.hayeem@btinternet.com       http://apjp.org/
From: Abe Hayeem, RIBA                            
Architects & Planners for Justice in Palestine
27 March 2013


Caro Arq. Souto de Moura

Assunto: Prémio Wolf

Na sequência da nossa carta de 7 de Fevereiro, voltamos a escrever-lhe para pedir-lhe que reconsidere as consequências da sua aceitação do prémio israelita Wolf para a arquitectura. Embora seja a sua escolha individual aceitar ou não esse prémio, gostaríamos de sublinhar com todo o respeito que essa escolha será feita num contexto político muito controverso, com consequências importantes para a ética e a reputação da nossa profissão.

A atribuição do prémio da Fundação Wolf para a Arquitectura de 2010 coloca-o na mais destacada companhia daqueles que o receberam, como é suposto e como é merecido. Embora o Dr. Ricardo Wolf tenha nascido na Alemanha e tenha sido o embaixador de Cuba em Israel em 1961-73, ele tornou-se cidadão israelita posteriormente e a Fundação Wolf faz actualmente parte do Estado de Israel. Enquanto na origem o dinheiro da Fundação era privado, o Tribunal de Contas de Israel supervisiona agora as actividades da Fundação e o ministro israelita da Educação e Cultura é o presidente do conselho da Fundação. Os prémios Wolf são portanto distinções do Estado de Israel e não podemos pretender que eles são separados desse Estado ou que não são “políticos”.

Além disso os prémios são concedidos pelo presidente de Israel no parlamento nacional, o
Knesset. Aí estão líderes de Israel responsáveis por acções coloniais que resultaram em expansão territorial ilegal, massacres e destruição urbana terrível, em guerras e crimes de guerra contínuos contra os palestinianos sob ocupação israelita. Esta violência é também exercida contra os Estados vizinhos como o Líbano e recentemente em dois ataques mortíferos a Gaza, em actos de matança gratuita e urbicida, com o uso de armas sofisticadas.

É irónico que Israel esteja a atribuir um prémio para a prática da arquitectura, que é utilizada no seu próprio país como um instrumento de guerra, apartheid, opressão, humilhação, expropriação e limpeza étnica, tudo isto totalmente em contradição com a nossa profissão humana, com os acordos da União Internacional dos Arquitectos (UIA) e com a condenação da UIA.

A afirmação de que o prémio é atribuído “independentemente do género, do sexo ou de atitudes políticas” é cínica, pois ironicamente, a discriminação racista institucional de Israel contra os palestinianos, tanto os que são cidadãos de Israel como os que vivem nos territórios ocupados ilegalmente, tem sido repetidamente condenada pela ONU e pelas organizações de direitos humanos. Esses prémios são usados como cobertura para projectar uma imagem de um Estado moderno, democrático, e para desviar a atenção das suas políticas de apartheid étnico contra os palestinianos sob sua administração, que vêm sendo implementadas há 65 anos com impunidade. Sabemos que também o senhor se pronunciou no passado contra as políticas “criminosas” de Israel contra os palestinianos, numa carta assinada pelo falecido José Samarago.

Quando muitos arquitectos de grande reputação, alguns deles seus amigos e colegas, receberam o Prémio Wolf ao longo dos anos, é possível que eles não estivessem conscientes na altura da dimensão das violações das convenções de Genebra e do desrespeito da lei internacional e humanitária na prática israelita da arquitectura. Isto inclui a construção nos territórios ocupados, nos colonatos ilegais da Cisjordânia e o avanço acelerado da judaização de Jerusalém Oriental e dentro do próprio Israel, sob o quase completo silêncio dos seus arquitectos. Peter Higgs, o pioneiro de Higgs Boson, foi galardoado com o Prémio Wolf para a Física em 2004, mas recusou ir a Jerusalém para o receber, porque opunha-se às acções de Israel no Médio Oriente. Muitos outros artistas, músicos e escritores famosos estão a recusar prémios ou actuar em Israel.

Com a UE neste momento a recomendar sanções contra Israel pela mais longa ocupação dos tempos, e o apelo urgente da sociedade civil palestiniana ao boicote de tais eventos e prémios oferecidos por Israel, http://pacbi.org/etemplate.php?id=869> , não podemos alhear-nos da realidade que implicaria aceitar um prémio ostensivamente prestigiante. Rejeitar esse prémio indicaria uma posição moral bem mais necessária contra a escalada de crimes de guerra e de injustiças perpetuados com a mais completa impunidade pelo Estado de Israel enquanto atribui esse prémio. Seria uma poderosa afirmação de apoio à justiça, liberdade e dignidade dos oprimidos e seria uma proeza de grande honra, uma afirmação corajosa da humanidade da nossa profissão.

Esperamos que responda a este apelo.

Com os melhores cumprimentos e a mais alta consideração,

Abe Hayeem, RIBA, Chair, Architects & Planners for Justice in Palestine (APJP)
&
Charles Jencks, Architect, Historian, Writer and Critic, UK/USA.
Ted Cullinan, CBE, RA, Winner RIBA Royal Gold Medal 2008
Will Alsop, RA, OBE:, Winner Stirling Prize 2000, UK.
Eva Jiricna, Winner Jane Drew Prize
Neave Brown, Architect, Artist, UK
Hans Haenlein, MBE, Dip.Arch RIBA, FRSA
Cezary Bednarski, MSc DipArch RIBA FRSA, UK
Kate Mackintosh, Architect, UK
Jake Brown, Architect, UK
Louis Hellman, Architect, Cartoonist, UK
Suad Amiry, Chief Architect, RIWAQ, (Centre for Architectural Conservation), Author, Ramallah, West Bank, Palestine
Khaldun B’Shara, Architect, Co-Director RIWAQ, Ramallah
Ed Hall, Architect, Banner maker, Turner Prize associate, UK
Walter Hain, Architect, UK
Bob Giles, Architect, UK
Dr. Yara Sharif, PhD, Univ.of Westminster, Architect UK & Ramallah
Nasser Golzari, NGA, Architect, UK, Lecturer, Oxford Brookes Univ
Dick Urban Vestbro, Emeritus Professor, Stockholm, ARC-Peace
Luz Maria Sanchez, Architect,Spain,Co-Chair:ARC-Peace Int.
Paul Broches, FAIA, Partner, Mitchell/Giurgola Architects, LLP, New York
David Berridge, AADipl RIBA
Oscar Margenet Nadal. Architect, Majorca
Bijay Anand Misra, Architect, India
Stephan Hawranick Serra, Architect, Spain
Patricia Canelas, Architect, Portugal
Ahmad Barclay, Architect, Beirut, Lebanon
Gail Waldman, Architect, UK
Predrag Milosevic, Prof. of Arch, Belgrade, Serbia, Yugoslavia
Öystein Grönning. Architect, Norway
Ryoichi Shuto, Architect, Japan
Isabel Camacho, Architect, Spain
Martin O’Shea, RIBA, UK
Michael Goulden, Architect, Wales
Malcolm Hecks, Architect, France
John Murray, Architect, UK
Graeme Bristol, Architect, UK
Blaise Crouzier, Architect HES, Geneva
Farhat Muhawi, Architect Head of Planning (RIWAQ), Ramallah, Palestine
Fida Touma, Architect, Ramallah, Palestine
Jan Dobrowolski, Architect UK
Frank Agostino de Marco, Architect, UK
Franziska Amacher, Cambridge Mass., Architects/Designers/Planners for Social Responsibility (ADPSR) USA
Farooq Rafiq, Planner UK
Kim Linden, Planner, Melbourne Australia
Federico Malusardi, Architect, Italy
Andrea Fitrianto, Architect, Italy
Terry Meade, Lecturer, Univ. of Brighton
Chris Teague, Dip, Arch Hons, Architect UK
Eric Wojchik, Planner, Stornoway
Klaus Faulhaber, Architect, UK
Nick Wood, Architect, UK
Sara Wood, MA, UK
John Hodge, RIBA, Architect, UK
Feras Hammami, Architect, Stockholm
Naseer Arafat, Architect, Director of NGO “The Cultural Heritage Enrichment Centre”, Nablus, West Bank
Lina Suleiman, Planner, Royal Institute of Technology, Stockholm, Sweden
Angelika Öyster, Architect, Athens, Greece
Ebba Högström, Architect, Associate Prof, Blekinge Inst. of Tech., Sweden
Amjad Kurdi, Architect, Al Habtoor Leighton Group, United Arab Emirates
Mohammad Hijjawi, Architect, An-Najah National University, Nablus, W.Bank
Susan Abu Farha, Architect, Palestine
Mahdi Abu Aisheh, Architect, Project manager in DiLeonardo Int., UAE
Karolina Isaksson, Planner, Associate Professor of Planning- and Decision Making, The Swedish National Road and Transport Research Inst., Sweden
Rita Santos, Planner, Royal Institute of Technology, Sweden
Majd Shaqu, Ministry of Education, West bank, Palestine
Shatha Alawneh, Architect, Ministry of Public Works and Housing, West Bank, Palestine
Anna Wedin, Environmental Planner, Sweden
Ayham Al Shal'out, Architect, Millennium Energy Industries, Jordan
Mike Smeir, Architect, CATD Architects, Jerusalem, Palestine
Ohuda Nabulsi, Architect, Global Communities International, West Bank
Suzan Abu Farha, Architect, West Bank, Palestine
Zeinab N. Tag-Eldeen, Architect, Royal Institute of Technology, Sweden
Luciane Borges, Architect, Royal Institute of Technology, Sweden
+ ARC-PEACE as an organization.
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Carta gentilmente divulgada pelo GAP (Grupo de Acção Palestina)