1.
«Norbert
Bézard continuava a escrever-me: “Queremos o mesmo tipo de liberdade que tem o
homem da cidade; salva-nos da fuligem da velha lareira, sinal da nossa condição
primitiva: as nossas faces grelhadas pelo fogo, as nossas costas geladas pela
humidade da casa; queremos radiadores, e mataremos quem nos vier com aquela
conversa do amor ao campo pitoresco e com tagarelices poéticas acerca “das
nossas vetusta lareiras e tardes sossegadas em frente ao fogo”, sem saber nada
sobre isso! Queremos casas sobre pilotis. Sim! Porque já estivemos demasiado
tempo com os pés metidos em esterco e lama, demasiado tempo em chão de terra
batida que nos aleijou com reumático. Dá-nos janelas, janelas largas, para
termos sol na nossa casa. Leva o esterco da frente da nossa mesa. Dá-nos os meios
para sermos limpos e saudáveis como as pessoas da cidade. Queremos lavar!” Etc.»
Le Corbusier, La Ville Radieuse (1935) - The Radiant City (Elements of a Doctrine of
Urbanism to be Used as the Basis of Our Machine-Age Civilization), 1967,
The Orion Press, New York, p.321
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Álvaro Domingues
Melgaço, 1959. É geógrafo e professor na
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto
Notas da edição
“Dípticos da aldeia
radiante. De como o Corbusier explicaria certas coisas que se vêem” é uma
revisitação ao célebre livro “Ville Radieuse” do arquitecto Charles-Édouard
Jeanneret-Gris (Le Corbusier), com selecção de excertos e fotografias por
Álvaro Domingues.
Ficha técnica
Data de publicação:
23 de Março 2016
Etiqueta: Geografias \ cidades