PONTO PODEROSO


André Tavares
PONTO PODEROSO
NOTAS SOBRE A OPERATIVIDADE DA TEORIA E DA CRÍTICA COMO INSTRUMENTOS DECISIVOS PARA O PROJECTO DE ARQUITECTURA

Hipótese 1. Início
O projecto inicia-se com um compromisso social indecifrável. A crítica e a teoria são um estorvo, caso não sejam manipuladas com destreza. Para quem não sabe desenhar, nada pior do que começar um projecto com um desenho. Para quem não sabe teorizar, nada pior do que começar um projecto com actividade teórica. Para quem não sabe, nada melhor do que começar. Arrancar, tendo na mira a potência de todas as coisas.

Hipótese 2. Força
A força de um projecto é o somatório ampliado da energia aplicada por todos os operários na execução da obra. Sem obra, a força de um projecto é a esperança desse movimento poderoso. Com obra, a força de um projecto é a angústia desse dispêndio. Em teoria, a teoria é a imaginação dessa força incomensurável.

Hipótese 3. Rede
A crítica combate a solidão. O diálogo crítico é um acto solidário, tal como o projecto é um acto colectivo. As coisas não são pontos poderosos que desfilam em sequências lineares. Os processos de mediação não deturpam o calor da realidade, são apenas outra realidade. O real é violento, existe, e o projecto é o caminho para outro real. Para percorrer esse trajecto não há sequências, só há relações inconsequentes e fecundas. A teoria é solitária e inútil. A crítica é um instrumento de navegação.

Hipótese 4. Singularidade
Estamos, inexoravelmente, condenados à solidão. A hipótese da construção do real é o cenário perfeito para a ilusão da partilha. A teoria e a crítica podem ajudar a compensar o desequilíbrio injusto da arquitectura. Na solidão, no diálogo, na relação entre seres que dá origem às coisas, a teoria e a crítica são instrumentos para estar. Estando, poderemos construir um real que não seja apenas singular.

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André Tavares (Porto, 1976)
Arquitecto. Responsável pela Dafne Editora. Vive no Porto.

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